Nasa tenta pousar sonda em Marte com brasileiro no comando

Este domingo (25) será marcado por tensão na Nasa (agência espacial norte-americana). Após um investimento de mais de US$ 450 milhões e uma viagem de 679 milhões de quilômetros feita em quase dez meses, a sonda Phoenix estará pronta para pousar em Marte e investigar as características da água e outros materiais existentes no pólo norte do planeta.

Entre os comandantes do procedimento --de alto risco-- está o brasileiro Ramon de Paula, chefe dessa missão na agência espacial.

O engenheiro está nos Estados Unidos desde 1969, quando tinha 17 anos de idade. Foi acompanhar o pai, oficial da Força Aérea Brasileira, que foi trabalhar na Comissão Aeronáutica Brasileira, em Washington. De Paula estudou engenharia eletrônica e depois fez especialização em engenharia nuclear. Trabalhou no JPL (Laboratório de Propulsão a Jato) --o grande berçário de tecnologias da Nasa-- e está no "quartel general" da agência espacial, em Washington, desde 1989. Comanda missões para Marte desde 2000.

Para o pouso deste domingo, que deve ocorrer por volta das 20h30 no horário de Brasília, a apreensão é grande em razão das dificuldades no procedimento: prova disso é que menos de 50% das sondas que tentaram pousar em Marte obtiveram sucesso até hoje. E a Nasa não consegue pousar uma sonda ali utilizando motores retropropulsores --a tecnologia utilizada pela Phoenix-- desde 1976.

Em 1999, a sonda Mars Polar Lander se perdeu após tentar chegar ao solo do planeta. "Não descemos com esse tipo de pouso há 32 anos. Isso cria uma grande expectativa, ansiedade, preocupação", afirmou de Paula à Folha Online.

Para que o procedimento tenha sucesso, uma conjunção de fatores tem de se concretizar. A nave vai chegar à atmosfera com uma velocidade de 5,7 quilômetros por segundo que, em cerca de seis minutos e meio, será reduzida para 2,4 quilômetros por segundo antes de tocar o solo. Para isso, vai utilizar a fricção atmosférica de Marte, depois um pára-quedas e motores retropropulsores.

Depois, a preocupação será analisar se a Phoenix conseguiu abrir corretamente os seus painéis solares, necessários para fornecimento de energia e recarregagem das baterias --qualquer rocha com mais de meio metro nas redondezas pode atrapalhar essa abertura.

Deve demorar cerca de 15 minutos até que o controle da missão em terra comece a receber os sinais de rádio da sonda, em formato UHF, que permitirão analisar se o procedimento foi feito corretamente. Segundo de Paula, neste momento, o máximo que os profissionais poderão fazer é torcer. Isso porque a Phoenix é praticamente autônoma --o tempo máximo para fazer ajustes é um período entre quatro e seis horas antes do pouso.

Missão no gelo

Se tudo ocorrer conforme o planejado, a sonda vai ficar em operação por 90 dias. Durante esse período, vai analisar a camada de gelo existente na superfície de Marte por meio de um braço robótico. O equipamento deve perfurar o gelo até o solo e trazer amostras que serão analisadas por instrumentos localizados na própria sonda. Entre eles estão câmeras e microscópios, além de outros equipamentos de análise.

Ao estudar as condições e as origens da água no local, a Phoenix vai procurar por outras condições propícias para a vida no planeta, como compostos orgânicos. A sonda é capaz de coletar pequenas quantidades desses compostos e identificá-los. As duas naves Viking, da Nasa, que chegaram à Marte em 1976, não detectaram a existência desses compostos.

Para a Nasa, estudar a água em Marte é chave para descobrir respostas importantes, como se o planeta já teve vida. Segundo a agência, os pesquisadores também podem descobrir maiores informações sobre o processo de mudança climática. "Estamos cientes dos riscos e das dificuldades [da missão]. Mas achamos que é importante entender o Pólo Norte de Marte, saber o que aconteceu com a água, com o clima, como ele mudou. Isso pode beneficiar a gente aqui na Terra", afirma o executivo da agência. As primeiras análises devem sair em cerca de um mês de missão.


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