Decodificação do genoma de Neanderthal revela cruzamentos com homem moderno

WASHINGTON — O sequenciamento do genoma do homem de Neanderthal anunciado nesta quinta-feira por uma equipe internacional de cientistas revelou cruzamentos com o humano moderno e traz uma nova luz sobre as características genéticas humanas únicas na evolução.

De 1% a 4% do genoma humano (2% de seus genes) provêm do homem de Neanderthal, que apareceu há cerca de 400.000 anos e se extinguiu há 30.000 anos, precisaram cientistas em um estudo publicado na edição deste 7 de maio da revista americana Science.

O Neanderthal é assim o primo mais próximo dos seres humanos.

"Podemos dizer, de agora em diante, que com toda probabilidade ocorreu uma transferência de genes entre o homem de Neanderthal e os humanos modernos", afirma Richard Green, professor de engenharia biomolecular da Universidade da Califórnia em Santa Cruz e principal autor do estudo, que começou há quatro anos e do qual trechos haviam sido publicados em 2008.

Segundo os pesquisadores, essa transferência genética deve ter ocorrido de 50.000 a 80.000 anos atrás, provavelmente quando os primeiros Homo sapiens saíram da África, berço da humanidade, coincidindo com a presença dos homens de Neanderthal no Oriente Médio, antes de se dispersarem na Eurásia.

O fato de os genes do Neanderthal aparecerem no genoma de indivíduos de origem europeia e asiática, mas não entre os africanos, sustenta essa hipótese.

Além disso, não foi encontrado nenhum gene de Homo sapiens no genoma Neanderthal sequenciado a partir do DNA extraído de três ossos fossilizados provenientes da caverna Vindiglia, na Croácia, e que datam de 38.000 a 44.000 anos. Os ossos pertenciam a três mulheres.

Os cientistas compararam o genoma Neanderthal com o de cinco humanos modernos procedentes da África Meridional e Ocidental, assim como de França, China e Papua Nova Guiné. Também foi comparado com o genoma do chimpanzé, cujo DNA é 98,8% idêntico ao humano.

Na comparação, o Neanderthal mostrou-se geneticamente idêntico ao humano moderno em 99,7%, e ao chimpanzé em 98,8%. O antepassado comum do chimpanzé com o humano moderno e seu primo Neanderthal remonta a 5 ou 6 milhões de anos atrás.

O homem de Neanderthal e o humano separaram-se durante um período situado entre 270.000 e 440.000 anos, conclui o estudo, destacando que ambas as espécies eram muito semelhantes.

Mas as diferenças são sobretudo interessantes.

"O sequenciamento do genoma do Neanderthal nos permite começar a definir todas as características do genoma humano que diferem de outros organismos vivos, inclusive aquelas do parente mais próximo do humano na evolução", afirma Svante Paabo, diretor do Departamento de Genética do Instituto Max Planck na Alemanha, que lidera o projeto de sequenciamento do genoma.

Segundo Richard Green, "a decodificação do genoma de Neanderthal é uma mina de informação sobre a evolução recente da humanidade e será aproveitada nos próximos anos".

AFP

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