O lado negro da Apple

Matéria interessante da Galileu.
Principalmente a entrevista com o Wozniak.

Como a empresa usou um discurso em defesa da liberdade e da criatividade para vender seus produtos e se tornar a maior companhia do mundo em tecnologia. E como esse mesmo discurso rebelde mascara uma política autoritária e baseada na censura

Fábio Dias

O último 26 de maio foi dia de festa no Vale do Silício. A Apple havia acabado de se tornar a maior companhia de tecnologia do mundo, desbancando a Microsoft do primeiro lugar. A empresa dirigida por Steve Jobs terminou o dia valendo US$ 222,07 bilhões no mercado de ações dos EUA. No mesmo dia, do outro lado do mundo, um chinês de 23 anos de idade se jogava do sétimo andar de um dormitório em Shenzhen, na China. Era o décimo empregado da fábrica Hon Hai a cometer suicídio em 2010, o que chamou a atenção da imprensa mundial para as condições de trabalho na empresa. Grande parte dos produtos que permitiram o sucesso da Apple, entre eles o iPod, o iPhone e o iPad, são confeccionados pelas mãos desses mesmos funcionários que estão se matando na China.

“Embora todo suicídio seja trágico, a taxa de suicídio na fábrica é bem menor do que a média na China”, disse Steve Jobs, depois de ter declarado que a Apple estava investigando o caso. Por fim, a Hon Hai anunciou que iria aumentar o salário dos empregados em 66%.

Essa história é um exemplo extremo do que pode ser descrito como o paradoxo da Apple. Ao mesmo tempo em que se gaba de pagar bem e respeitar seus funcionários, a empresa ignora maus-tratos do outro lado do mundo. A mesma companhia que já foi símbolo de inconformismo e criatividade andou aparecendo no noticiário depois de censurar conteúdos e ameaçar jornalistas. O discurso da liberdade proferido por Jobs convive com uma prática autoritária e moralista. É um paradoxo que começou a tomar forma lá na década de 70, passou a ficar claro nos anos mais recentes e pode ajudar a explicar o incrível sucesso dos produtos da Apple.

 Os bons tempos

Stephen Wozniak sempre gostou de pegadinhas. O ano era 1971 e ele tinha acabado de entrar na faculdade. Sob o olhar atento dos amigos, Wozniak estava no meio de uma ligação para o Vaticano: “Eu estou ligando a pedido do presidente Nixon. Você pode chamar o Papa?” A brincadeira falhou, o Papa não foi chamado, mas Wozniak conseguiu demonstrar para seus colegas como sua caixinha azul funcionava. O apetrecho conseguia burlar as falhas nas redes de telefonia e fazer ligações de graça para qualquer lugar do mundo.

Foi seu amigo de infância, Steve Jobs, quem viu na invenção uma oportunidade de negócios e propôs uma parceria. Era uma dupla inusitada. Wozniak era um nerd fissurado por eletrônica, que projetava computadores desde pequeno, enquanto Jobs se interessava mais pela filosofia oriental, o budismo e o autoconhecimento. Ele já havia viajado até a Índia em busca de gurus, experimentado drogas como LSD e adotado uma dieta vegetariana. E aqueles dois cabeludos, vendendo caixinhas ilegais, foram o embrião do que viria a se tornar a Apple.

A Apple nasceu no espírito livre dos anos 70. Tratava-se de uma companhia ousada, que defendia uma filosofia nova — a dos computadores pessoais. “Eles queriam enfrentar a IBM, que representava o poder centralizado e monopolista. Queriam trazer o poder para os consumidores”, diz Michael Swayne, autor do livro Fire in The Valley (inédito no Brasil).


AP

A era da inocência: Em abril de 1984, os jovens Steve Jobs (esq.) e Steve Wozniak (dir.), co-fundadores da Apple, ao lado do então presidente da empresa, John Sculley, revelam o Apple IIc

A partir dessa intuição inicial, a empresa cresceu, se profissionalizou, contratou centenas de funcionários e produziu uma grande quantidade de computadores (veja linha do tempo abaixo). Em 1984, Jobs liderou o desenvolvimento do Macintosh, o primeiro computador pessoal a trazer um mouse e uma interface gráfica. Para o lançamento do computador, a Apple produziu uma propaganda que se tornaria histórica. Dirigida por Ridley Scott, ela era baseada no livro 1984, de George Orwell, e mostrava um mundo onde a população era oprimida por um grande ditador. Uma mulher representando o Macintosh era perseguida pela polícia, mas conseguia escapar e derrotar o opressor.

“A publicidade mostrava que a IBM usava tecnologia para escravizar as pessoas, enquanto o Mac era a tecnologia para sua libertação. O que diferenciava as empresas era a dedicação de fazer computadores para indivíduos, e não para corporações”, diz o jornalista Leander Kahney, autor do livro A Cabeça de Steve Jobs. Quem diria que, 15 anos depois, os desafetos da Apple é que seriam perseguidos pela polícia?

A mudança

No último dia 18 de março, Gray Powell resolveu comemorar seu aniversário de 27 anos num tranquilo restaurante na Califórnia. O engenheiro de softwares da Apple bebeu algumas cervejas, confraternizou com os amigos e voltou para sua casa. No dia seguinte, se deu conta da grande besteira: ele havia esquecido no restaurante um protótipo do novo iPhone 4, um verdadeiro segredo industrial.

Alguns dias depois, fotos e uma grande análise do novo gadget foram publicadas pelo site americano especializado em tecnologia Gizmodo. Eles compraram o protótipo do iPhone das mãos de quem o encontrou por US$ 5 mil. Quando a Apple finalmente admitiu que o produto era real, o editor do site, Jason Chen, devolveu o telefone à empresa.

Reprodução
REPRESSÃO DA MAÇÃ: 1. Editor do site americano Gizmodo, Jason Chen, teve a casa invadida pela polícia a pedido da Apple. 2. A revista Dazed&Confused precisou apagar os mamilos da Madonna para ir ao iPad. 3. O cartum ganhador do Pulitzer, censurado e depois liberado. 4 e 5. Mais desenhos censurados
Parecia o fim do caso, mas no dia 23 de abril uma equipe de policiais da Califórnia invadiu a casa de Jason e levou quatro computadores e dois servidores. A Apple havia prestado uma queixa de que o protótipo fora roubado. “É muito triste ver a Apple ter tanta influência na polícia a ponto de um jornalista ter a casa invadida”, diz Ryan Tate, do site Gawker, da mesma empresa do Gizmodo.

Esse modo de lidar com a imprensa e com os novos produtos não é nenhuma novidade na Apple. Grande parte da expectativa que cerca os lançamentos da empresa se deve justamente à sua capacidade de mantê-los em segredo. O sigilo é tão grande que pouquíssimos funcionários têm acesso ao produto inteiro antes de sua chegada ao mercado. Wozniak contou à Galileu que até mesmo o engenheiro que lhe mostrou o iPad antes da hora foi sumariamente demitido.

O paradoxo

Wozniak se desligou da Apple em 1987, quando se cansou de trabalhar em uma empresa tão grande e cuidar de assuntos burocráticos — queria voltar a ser um simples engenheiro. Jobs, ao contrário, vestiu a camisa da Apple desde o começo, sempre buscou cargos de liderança e preocupava-se em incutir na equipe uma “ideologia” própria. Tanto que ele só se desligou da empresa quando foi forçado, em 1985, por executivos que ele mesmo havia contratado.

“Jobs fez a Apple ser diferente de todas as outras companhias daqueles anos, que hoje já estão esquecidas. Ele tinha uma paixão e uma intensidade como ninguém mais tinha. Queria fazer coisas importantes e não deixava ninguém ficar em seu caminho”, diz Swayne. Prova disso é que a companhia quase faliu nos anos em que ele esteve fora. Neste meio tempo, Jobs fundou uma empresa chamada NeXT, que nunca decolou de verdade, e comprou, por US$ 5 milhões, uma pequena produtora de efeitos especiais chamada Pixar, então uma divisão da Industrial Light & Magic. Hoje, a Pixar pertence à Disney e acumula mais de US$ 5 bilhões em bilheterias e vários prêmios de melhor animação, inclusive o Oscar. Com o toque de Midas intacto, Jobs foi recontratado em 1996 e em questão de meses se tornou o presidente da Apple.

Apesar de sua inegável genialidade, Jobs é tido por seus biógrafos como um chefe intransigente. Seu estilo de liderança valorizava o castigo, os gritos e os xingamentos. Em seu livro A Cabeça de Steve Jobs, o jornalista Leander Kahney relata que acessos de fúria e demissões sumárias fazem parte do dia a dia da Apple. Ele diz: “Assim como Jobs é extremamente exigente com seus subordinados diretos, os gerentes de médio escalão exigem o mesmo nível de desempenho do seu pessoal. O resultado é um reinado de terror”.

Após seu regresso, a empresa bancou uma campanha de marketing com o slogan “Pense Diferente”, mostrando artistas e personalidades que mudaram o mundo com sua rebeldia. A propaganda veiculada na TV mesclava imagens de personalidades do século 20, como Gandhi e Picasso, amantes da liberdade e da criatividade, aos produtos da Apple. Foi o começo da consolidação da imagem da companhia como mais que uma fabricante de computadores e sim uma criadora de tendências. Com o lançamento do iPod, em 2001, a companhia saiu do buraco de vez. E ninguém mais pôde pensar diferente.

 A reação

O lançamento do iPad no começo deste ano coroou uma bem-sucedida linha de produtos. O próprio iPod já havia vendido mais de 260 milhões de unidades, o iPhone passou da casa dos 5 milhões e o iPad, em apenas dois meses, alcançou a marca de 2 milhões de unidades comercializadas. O prognóstico de vendas do iPhone 4, lançado no último dia 7 de junho, é de 24 milhões de aparelhos até o final do ano. Mas, na opinião de especialistas, esses produtos representam um retrocesso para aqueles interessados em produzir conteúdos. “Eles lidam com o desenvolvimento de aplicativos para iPhone e iPad de modo ditatorial e autoritário. O processo pelo qual um aplicativo é aprovado é extremamente fechado”, diz Ryan Tate, do Gawker.

Uma nova regra estipulou que todo aplicativo, para ser aceito, deveria ser desenvolvido numa das linguagens de programação adotadas pela Apple. Isso impede que programas desenvolvidos para outros smartphones possam ser adaptados para o iPhone, ou seja, todo software tem que ser pensado para rodar exclusivamente na máquina da Apple.

Não parou por aí. A empresa começou a banir aplicativos não só por causa da linguagem, mas também por seu conteúdo. Em fevereiro, a Apple tirou de sua loja virtual, a App Store, mais de 5 mil aplicativos, alegando que eles traziam conteúdo pornográfico. Depois disso, as versões digitais de inúmeras revistas comercializadas por meio do aplicativo Zinio, uma espécie de banquinha virtual, passaram a ser censuradas, como a Maxim, a Vogue e a Playboy. A Dazed&Confused foi obrigada a apagar os mamilos da Madonna para que a revista fosse aprovada pelos censores da Apple. Ryan Tate conseguiu trocar alguns e-mails com Steve Jobs sobre o assunto: “Ele defendeu muito enfaticamente a censura e a restrição de conteúdos. Ele foi moralista, e falou em proteger o mundo contra aplicativos ruins e a pornografia”.

Qual é o problema nisso, afinal toda empresa tem o direito de decidir o que pode ser vendido em sua loja, não é? O problema é que o aplicativo censurado na App Store fica sem alternativas para chegar aos iPhones e iPads dos usuários. Na prática, os funcionários de Jobs é que escolhem o que você pode ou não consumir, abrindo precedentes perigosos que podem rapidamente se transformar em censura.

Os temores foram confirmados quando a Apple resolveu banir de sua loja desenhos de três cartunistas americanos. Um dos censurados foi Mark Fiore, premiado dias antes com o Pulitzer, o maior prêmio de jornalismo dos EUA, de melhor cartum editorial. A pressão foi grande e Fiore voltou à App Store, mas os desenhos de Daryl Cagle, que publica seus cartuns no site MSNBC, continuam vetados. Ryan questiona os limites da censura na Apple: “O cartum é a forma mais pura da liberdade de expressão. A Apple não quer que ridicularizemos pessoas famosas”. Uma ditadura não faria melhor.

Ridicularizar pessoas famosas, aliás, é o trabalho do comediante Jon Stewart, apresentador do programa Daily Show. E Jobs foi uma de suas vítimas: “Apple, vocês eram os rebeldes, os oprimidos. Nós acreditávamos em vocês. Lembra de 1984, daqueles comerciais incríveis sobre superar o Grande Irmão? Olhem-se no espelho! Não era para ser assim, era para os caras da Microsoft serem os bandidos”. O programa de televisão de Jon Stewart é bastante influente entre os intelectuais e liberais americanos (Obama foi entrevistado por Stewart diversas vezes). Isso pode dar uma ideia de como a imagem da empresa — e de Jobs — está se deteriorando.

A reação de Stewart é um indício de que até os fãs da maçã estão caindo na real: apesar do belo discurso, a Apple não é muito diferente de todas as outras grandes empresas americanas. “Hoje ela se parece muito com a Microsoft”, diz Michael Swayne. “Tem poder e o usa sem misericórdia, processando clientes e destruindo outros negócios. A arrogância é a mesma.” Bem ao gosto orientalista de Jobs, a história da Apple parece seguir na base do Yin e Yang. A liderança arrogante, insensível e autoritária, consegue tirar o máximo de criatividade e dedicação de seus funcionários. O perfeccionismo exacerbado e o sigilo absoluto convivem com os melhores e mais bem desenhados produtos eletrônicos. O exclusivismo egoísta ajudou a companhia a proporcionar a seus clientes experiências únicas. Os atuais excessos só chamam a atenção para algo que sempre existiu. O lado claro da Apple, com produtos geniais como o Mac e o iPod, sempre dependeu do lado negro para existir.

Da rebeldia à caretice

Em três décadas, a Apple deixou os ideais libertários para trás e adotou a censura como política empresarial

1976
Wozniak projeta o Apple I, que só é comprado pelos entusiastas de tecnologia
  Divulgação
Grau de censura:
  Divulgação
Qualquer um pode desenvolver softwares para o computador e a placa de circuitos
que pode ser modificada pelo usuário o quanto ele precisar

1984
O Macintosh é o primeiro computador pessoal com interface gráfica e mouse.
Um comercial clama os usuários a se revoltarem contra a opressão das grandes
companhias
  Divulgação
Grau de censura:
  Divulgação
O computador é o primeiro da companhia a vir com o gabinete selado,
impedindo qualquer modificação no hardware

1997
Depois de um grande declínio da Apple, Jobs é recontratado e vira diretor
da Apple. É lançada a campanha Think Different

Grau de censura:
  Divulgação
A propaganda conclama os rebeldes a comprarem os computadores
da empresa

2001
Lançamento do Ipod, que viria a transformar toda a indústria da música
  Divulgação
Grau de censura:
  Divulgação
No começo só funcionava em computadores da Apple, mas a empresa
liberou seu uso em PCs. Ainda depende do iTunes

2006
A campanha Get a Mac, que enaltece os produtos da Apple em relação aos PCs,
ajuda nas vendas dos novos MacBook Pro e Mac Pro
  Divulgação
Grau de censura:
  Divulgação
Os computadores só aceitam os componentes certificados pela Apple,
mas a criação de programas é livre

2007
Com o iPhone, a Apple finalmente entra na era dos smartphones
  Divulgação
Grau de censura:
  Divulgação
A restrição a certos conteúdos e a certas linguagens de programação
bloqueia uma grande parte do conteúdo que poderia estar disponível

2010
O iPad é aclamado como um produto revolucionário, que pode mudar o modo
como as pessoas se relacionam com as mídias
  Divulgação
Grau de censura:
  Divulgação
A empresa censura conteúdo editorial das versões para o iPad de revistas
como a Vogue, Dazed&Confused e Playboy. As restrições não têm
critérios claros

Uli Heckmann/Corbis Outline

"Acionar a polícia para invadir a casa de Jason Chen foi desnecessário. Acho que a divulgação do novo iPhone foi um caso muito pequeno. Mas a Apple demitiu até mesmo o engenheiro que me mostrou o iPad antes do lançamento..."
O bonachão Stephen Gary Wozniak, 59 anos, mais conhecido como Steve, fundou a Apple junto do outro Steve, o Jobs, em 1976. Os dois transformaram a Apple em sinônimo de computadores pessoais amigáveis, bonitos e fáceis de usar. Em 1987, já multimilionário, entediado e cansado de lidar com assuntos burocráticos, ele resolveu seguir outros caminhos e saiu da companhia (embora até hoje receba salário da Apple). Apesar de ainda manter amizade com Jobs, Woz critica a atual política da empresa, e chegou a aparecer em fotos com uma camiseta ironizando o vazamento do protótipo do iPhone. Em entrevista à Galileu, diz o que pensa sobre a empresa que ele ajudou a criar.

*A Apple tem a fama de ter surgido da contracultura. É verdade?
STEPHEN WOZNIAK: Começar a companhia não foi uma ideia contracultural. Eu tinha desenvolvido um produto muito bom, o Apple II, que podia nos dar dinheiro. Começamos sem grana nenhuma, fazíamos as coisas de modo diferente e não seguíamos as regras impostas - nem sabíamos quais eram a regras. Além disso, Jobs precisou bolar motivos para as pessoas comprarem nossos produtos. Tivemos que nos colocar como diferentes, desafiar o modo como as coisas eram feitas. Defendíamos que os computadores não tinham que ser grandes, lançamos a incrível ideia do computador pessoal. Por acidente, acabamos entrando no holofote contracultural.
* Você consegue se ver nos produtos Apple?
WOZ: Eu estava muito próximo da situação, não sei dizer. Mas muitas das pessoas que me conhecem muito bem veem essa relação. O que é bom, porque eu amo os produtos da Apple. São tudo que busco em tecnologia: menores, mais leves, mais rápidos e bonitos.
* Se é assim, por que você largou a Apple?
WOZ:
No começo da Apple eu era essencial. Não havia nenhum outro engenheiro na companhia. Depois, nós contratamos centenas de engenheiros, e eu não era mais essencial. Nessa mesma época [em 1981], eu tive um acidente de avião [derrubou seu avião particular, que ele mesmo pilotava, na decolagem, no aeroporto de Santa Cruz, na Califórnia]. Fiquei internado, tive amnésia durante cinco semanas. Quando saí do hospital, liguei pro Jobs e falei que aquela era minha única chance de me formar na faculdade. Foi uma escolha pessoal, acabei indo estudar em Berkeley. Alguns anos depois, eu acabei voltando para a Apple. Mas aí eu estava cuidando da burocracia, viajando, participando de grupos de discussões. Resolvi largar a Apple para começar outra empresa, o que é a coisa mais divertida do mundo. Ali, construímos o primeiro controle remoto universal.
* Como você vê o fato da Apple ter se tornado a maior companhia de tecnologia do mundo?
WOZ: Para mim, foi um sucesso muito inesperado. No entanto, Jobs sempre teve a intenção de ter uma empresa muito grande.
* E o que você pensa sobre a censura de conteúdo em alguns aplicativos?
WOZ: Quem abre uma loja de livros pode decidir não vender todos os livros que querem estar em sua loja. O maior bem da Apple é sua marca. E ela não quer misturar sua marca com certos tipos de softwares. Além disso, o iPhone e o iPad costumam ser somente o computador secundário das pessoas. A grande maioria tem um computador de verdade em casa. Falam que a Apple é contra a liberdade e tenta controlar o que vemos. Pode ser verdade, mas é só um lado da história. Ela quer que as pessoas tenham acesso a esse tipo de coisa, só não quer ser parte disso.
* E mesmo assim você apoia os iPhones hackeados?
WOZ: Não acho que isso faça muita diferença, que liberte as pessoas das garras da Apple ou que transforme o telefone em um mundo livre. Mas acho importante que alguém faça isso. Os produtos da Apple são os melhores, mas existem aqueles que querem ir além. Querem que eles sejam totalmente abertos e que qualquer um faça o que quiser com eles. Eu acho muito bom ver isso acontecendo. Se alguém quiser criar uma linguagem de programação para o iPhone, eu não vejo como uma coisa ruim para a Apple. As pessoas que possuem o conhecimento técnico, como eu possuía quando era pequeno, vão ter algo diferente para fazer e mostrar aos outros.
* E essa história da invasão da casa do Jason Chen [editor do site Gizmodo americano], ela seria possível na Apple de 25 anos atrás?
WOZ: Não seria possível nem mesmo há cinco anos. A atitude foi desnecessária. Acho que a divulgação do novo iPhone foi um caso muito pequeno, não machucou a Apple. Mas a Apple demitiu até mesmo o engenheiro que me mostrou o iPad antes do lançamento... Eu estou marcando de almoçar com ele, pra bater um papo, ver o que ele está fazendo da vida.
* Com o que você está trabalhando agora?
WOZ: Estou numa companhia chamada Fuision-io. Estamos construindo o melhor e mais rápido sistema de armazenamento para servidores no mundo. Em dois anos, esse tipo de sistema vai estar em todos os servidores do planeta. Eu me surpreendi quando eles me chamaram, porque nenhuma companhia tinha feito isso antes. E eles ficaram mais surpresos ainda quando eu disse sim.
* Qual você acha que vai ser o futuro da computação? Onde podemos achar a mesma energia criativa que tínhamos nos primeiros anos da Apple?
WOZ: A energia criativa não desapareceu, olhe para o tanto de gente que cria seus próprios vídeos no YouTube. Não dá mais para fazer o que eu fiz: juntar uns chips e construir um novo produto. É muito difícil vir com alguma coisa nova daí, há muito dinheiro envolvido. Mas olhe para essas novas ideias como o MySpace, Facebook e Twitter. Elas vêm de pessoas novas, que fazem um trabalho em que acreditam e que conseguem enxergar nele algum valor.

Revista Galileu


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