Melhor filme de drama, ‘Argo’ é a surpresa da festa do Globo de Ouro


RIO - Para surpresa do cinema americano e dos milhões de telespectadores grudados em sua transmissão ao vivo pela TV, a festa do Globo de Ouro 2013, realizada na noite de domingo em Beverly Hills, deu a "Argo", de Ben Affleck, uma vitória que analista nenhum do mercado audiovisual previa. Produzido pelos atores George Clooney e Grant Heslov, a produção de US$ 45 milhões dirigida e estrelada pelo ator de 40 anos conquistou o prêmio de melhor filme na categoria drama no momento em que Hollywood em peso esperava ouvir o nome "Lincoln".

Com sete indicações nas costas, o recorde do ano, o épico cinebiográfico de Steven Spielberg era encarado como favorito absoluto, por seu sucesso de bilheteria (um dos maiores do cineasta, que é bamba no quesito vender ingresso) e por sua boa aceitação entre os críticos. Acabou recebendo apenas uma láurea, a de melhor ator, enquanto Affleck foi agraciado com o troféu mais cobiçado entre todos os que são conferidos pela Hollywood Foreign Press Association (HFPA), a associação dos jornalistas estrangeiros radicados em solo americano. Já no território comédia/musical, a HFPA elegeu como melhor filme "Os miseráveis" ("Les misérables"), que o cineasta Tom Hooper extraiu do espetáculo teatral homônimo, decalcado da prosa de Victor Hugo.

Num gesto de reconhecimento mais do que justo, a HFPA deu ainda a Affleck o prêmio de melhor diretor por "Argo", que comprovou sua versatilidade artística e sua competência como contador de histórias no posto de cineasta. É seu terceiro longa como realizador, precedido por "Medo da verdade" (2007) e "Atração perigosa" (2010). Ao reconstituir os fatos reais ligados à exfiltração de um grupo de americanos ligados à embaixada dos EUA no Irã em 1979, Affleck reciclou conceitos da cartilha dos thrillers políticos da década de 1970. Nas bilheterias, o investimento de Clooney e Heslov em Affleck provou ter sido válido, uma vez que o longa arrecadou US$ 167 milhões na venda de ingressos.

De carona no burburinho político, "A hora mais escura" ("Zero Dark Thirty"), de Kathryn Bigelow, também um thriller ligado à CIA, rendeu o Globo de Ouro de melhor atriz para Jessica Chastain. Ela vive uma agente do serviço de Inteligência dos EUA que acompanha os métodos de tortura empregados por seus colegas na caçada a Osama Bin Laden.

Em tempos de mudanças no Velho Mundo, sopradas por crises econômicas, "Amor" ("Amour"), do austríaco Michael Haneke, com seu olhar sobre a vida a dois e seu maior inimigo, o tempo, venceu a disputa pelo Globo de melhor filme estrangeiro. Lançado em maio de 2012 no Festival de Cannes, de saiu com a Palma de Ouro (a segunda da carreira do diretor, antes premiado lá por "A fita branca", em 2009), o longa dispara como uma das zebras para o Oscar 2013, após ter recebido cinco indicações. Haneke, famoso por seu humor rarefeito, fez troça (com carinho) de ter recebido a láurea das mãos de um "conterrâneo", Arnold Schwarzenegger, que apresentou a categoria em parceria com o amigo, ex-sócio (no Planet Hollywood) e ex-rival (pelo posto de rei da ação) Sylvester Stallone.

Não bastasse ter sido eleito melhor filme na seção comédia/musical, "Os miseráveis" ainda consagrou dois de seus principais intérpretes. Celebrizado como Wolverine na franquia "X-Men", o australiano Hugh Jackman conquistou o Globo de Ouro de melhor ator de musical por seu trabalho com Tom Hooper, traduzindo em canto o sofrimento da Europa em vias de Modernidade de Victor Hugo. Adorado na indústria por sua afabilidade e por sua disposição para trabalhos inusitados, ele foi ovacionado por seus colegas. E a leva de ganhos do longa de Hooper não parou por aí. Ele premiou ainda Anne Hathaway. Melhor atriz de sua geração, consagrada por "O casamento de Rachel", em 2008, Anne, de 30 anos, desafiou todas as previsões e tirou o prêmio de melhor coadjuvante feminina da veterana Sally Field, considerada favorita absoluta por "Lincoln". Anne foi premiada por seu trabalho como ave canora em "Os miseráveis", no qual entrou por pressão (carinhosa) de Jackman, de quem ficou amiga ao realizar duo de dança na cerimônia do Oscar de 2009.

Na categoria melhor atriz de comédia/musical, a HFPA optou por não fazer surpresas e deu o Globo dourado para Jennifer Lawrence, por "O lado bom da vida" ("Silver linings playbook"), veículo usado pelo produtor Harvey Weistein para fazer dela (prematura e injustamente) uma nova Natalie Portman. Favorita na categoria, a estrela da franquia (recém-aberta) "Jogos vorazes" vem crescendo em popularidade desde "Inverno da alma", que fez dela uma revelação há três anos. Agora, ela leva o prêmio pela comédia romântica de David O. Russell, cujo desempenho nas bilheterias frustrou os exibidores nos EUA.

Para Quentin Tarantino e seu faroeste "Django livre" ("Django unchained"), que entra em cartaz no Brasil nesta sexta-feira, após ter arrecadado US$ 125 milhões nos EUA, a HFPA reservou dois Globos: o de roteiro e o de ator coadjuvante. Este último foi para Christopher Waltz, austríaco como Haneke e Schwarzenegger. O ator já havia sido laureado pela associação de jornalistas em 2010, por outro exercício tarantinesco de ficção: "Bastardos inglórios". No palco, Waltz agradeceu Tarantino por tudo o que o cineasta fez por sua carreira - ou seja, revelá-lo para os americanos. Para Tarantino, que dedicou a conquista a seus elenco, em especial Samuel L. Jackson (seu ator-xodó), o resultado foi uma surpresa. Mas ele também é encarado como o favorito ao Oscar de roteiro original.

Na seara musical votada pela HFPA, apresentada pelo Stallone contemporâneo, o inglês Jason Statham, e pela calipígia Jennifer Lopez, "As aventuras de Pi" ("The life of Pi", do taiwanês Ang Lee, recebeu o prêmio de melhor trilha sonora, dada ao compositor Mychael Danna. Statham entregou também o troféu de melhor canção, confiado a Adele por "Skyfall", primeiro hit da fase Daniel Craig como James Bond, ouvido no bilionário 007 de Sam Mendes.

Detentor de uma bilheteria de US$ 535 milhões, "Valente" (Brave") ganhou o prêmio de melhor longa de animação quase por inércia, imantado pela grife Pixar. Mas sua vitória foi "a" injustiça da noite do Globo de Ouro, visto sua inconsistência dramatúrgica na comparação com os rivais "Frankenweenie", de Tim Burton, e "Detona Ralph", de Rich Moore, ambos com traços autorais no visual e no roteiro.

No setor de homenagens por conjunto da obra, a atriz e diretor Jodie Foster, de 50 anos, recebeu de Robert Downey Jr. um Globo de Ouro especial, o troféu Cecil B. DeMille por toda sua contribuição ao cinema, iniciada em 1969. Este ano, Jodie será vista ao lado do baiano Wagner Moura no aguardado "Elysium", que o sul-africano Neill Blomkamp ("Distrito 9") lança em agosto.

A lista de ganhadores das categorias de cinema do prêmio da HFPA

Filme

"Argo", de Ben Affleck (drama)

"Os miseráveis", de Tom Hooper (comédia/ musical)

Filme estrangeiro

"Amor", de Michael Haneke (Áustria)

Diretor

De Ben Affleck ("Argo")

Atriz

Jessica Chastain, por "A hora mais escura" (drama)

Jennifer Lawrence, por "O lado bom da vida" (comédia/ musical)

Ator

Daniel Day-Lewis, por "Lincoln" (drama)

Hugh Jackman, por "Os miseráveis" (comédia/ musical)

Ator coadjuvante

Christoph Walts, por "Django Livre"

Atriz coadjuvante

Anne Hathaway, por "Os miseráveis"

Roteiro

Quantin Tarantino, por "Django livre"

Trilha sonora

"As aventuras de Pi"

Canção

"Skyfall", de Adele ("007 - Skyfall")

Animação

"Valente", de Brenda Chapman, Mark Andrews e Steve Purcell






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