‘O médico e o monstro’ ganha musical

'O médico e o monstro' ganha musical

RIO - Sucesso no circuito Off-Broadway em 1989, a adaptação do ator George Osterman (1953-95) para o clássico "O médico e o monstro", de Robert Louis Stevenson, chegou pela primeira vez ao país em 2004, numa encenação dirigida por Marco Nanini e com Ney Latorraca no duplo papel de Dr. Jekyll e Edward Hyde. Agora, a partir desta quinta no Café Pequeno, é Cesar Augusto que assina a direção de uma nova e musical abordagem para o texto.

— Assisti ao espetáculo do Nanini. Aquilo era ótimo, e quando o Libonati (Fernando, produtor) me fez o convite eu aceitei na hora — diz Cesar. — Comecei a estudar o texto, o autor, de onde aquilo tinha surgido. E aí constatei que veio de um período em que, coincidentemente, estive em Nova York, e me lembrei de todo o furor que o teatro do ridículo causava naquela época.

Cesar se refere a Osterman e à companhia que ele integrava, a Ridiculous Theatre Company. O grupo, fundado por Charles Ludlam, estabeleceu o que se conhece como teatro do ridículo e foi responsável por outro dos maiores sucessos que já passaram pelos palcos brasileiros, "Irma Vap", também levado à cena por Nanini e Latorraca. A sátira, o humor negro e ácido, a questão de gênero e transgênero eram marcas da abordagem bem-humorada e provocativa que a trupe do ridículo disseminou numa Nova York assombrada pela Aids. Uma das característica centrais da pesquisa da companhia americana era desestabilizar códigos de conduta, comportamento e convenções — sociais e teatrais — que vigoravam à época.

— Eles foram muito importantes à época e, de certa forma, influenciaram o besteirol criado aqui no Rio — diz Cesar. — Eles confrontavam uma certa hipocrisia social, mas com muito humor. Então realmente é um espetáculo divertido, engraçado, de verão, mas com camadas de questões importantes, que tocam nossos interesses sexuais e eróticos, nossas penitências e culpas, uma série de indagações que dizem respeito ao mundo de hoje.

Na história, Bruce Gomlevsky interpreta Dr. Henry Jekyll, que trabalha arduamente para desenvolver uma fórmula capaz de dissociar o sujeito de seu comportamento comum. Cobaia de seu próprio experimento, ele traz à tona a sua metade mais perversa e anárquica, Edward Hyde.

— Ele desenvolve a tese do dualismo quântico sináptico, ou seja, diz que há uma dualidade em cada um de nós, então a peça revela o lado bom e também as monstruosidades que surgem no caminho.

Ativada a partir de uma combinação com um café intragável feito pela empregada Minerva (Marcelo Olinto), a poção mágica de Jekyll é um catalizador de transformações diversas, sexuais inclusive, que se manifestam, na maioria das vezes, no cabaré Extravaganza, onde se passa a encenação.

— O Osterman localiza o ponto de fuga do doutor para o corpo de Hyde numa boate. Porque a boate é um lugar onde você vai e pode se comportar de um modo diferente. As pessoas se transformam, fazem coisas que não poderiam em outros lugares, atitudes que você não manifestaria em público. Então isso acontece, para o bem e para o mal.

Com Gomlevsky e Olinto estão Débora Lamm, Erica Migon, Isabel Cavalcanti, Michel Blois e Hugo Resende.






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