O esforço para digitalizar todos os manuscritos da biblioteca é lento, custoso e delicado, conforme explicitou o monsenhor Cesare Pasini, prefeito da instituição. Todas as obras disponíveis agora e no futuro podem ser consultadas gratuitamente.
O procedimento é feito com tecnologia chamada Fits (Flexible Image Transport System), desenvolvida pela Nasa - a agência espacial dos Estados Unidos. Para esta primeira fase da digitalização, a Biblioteca Vaticana recebeu 2,5 milhões de euros da fundação londrina Polonsky. A biblioteca Bodleian, da Universidade de Oxford, também terá manuscritos digitalizados. Estima-se que 1,5 milhão de páginas sejam fotografadas, sendo dois terços correspondentes às coleções do Vaticano.
O prefeito da Biblioteca Vaticana conta que há uma prioridade. Escritos hebreus, gregos e incunábulos (obras impressas com tecnologia ainda incipiente) do século XV foram os escolhidos para virem à público primeiro, devido à importância histórica. "As obras são de vários períodos históricos, vão da Idade Média ao século XV. Decidimos por digitalizar antes os manuscritos mais delicados e antigos", explica Pasini.
Tudo é feito com doações e apoio de outras instituições, como a EMC Corporation, que oferece o suporte técnico. "Eles nos deram máquinas para digitalização, conservação e também apoio financeiro", conta Pasini. A Biblioteca Vaticana mantém ainda outro projeto de digitalização, em parceria com a Universidade de Heidelberg, na Alemanha. Com ele haverá a reconstituição digital da antiga Biblioteca Palatina, a qual chegou a ser considerada tesouro da Alemanha no século XVI, cujo acervo se encontra, na maioria, em Roma.
"Esses bens dizem respeito à Humanidade. Tem cultura clássica, humanística, pré-colombiana, asiática, chinesa, japonesa. São livros que podem interessar a todas as pessoas curiosas do mundo", enumera o dirigente da biblioteca. "As pessoas vão poder ler e ver as imagens; isso se torna um serviço de conhecimento e liberdade", completa.
Muitos anos pela frente
O professor de paleografia João Franklin Leal avalia a digitalização dos manuscritos com empolgação. "A gente aplaude, porque é realmente uma coisa estupenda. Não é só maravilhosa, é estupenda", diz. Para o historiador, que já visitou a Biblioteca Vaticana, ter os manuscritos online gratuitamente é uma forma de democratizar o conhecimento.
"Agora não vai ser mais preciso pegar avião, se hospedar em hotel, passar pela burocracia do acesso. Isso tudo leva tempo. Para consultar um livro é preciso esperar uma semana. Imagina o preço que fica", comenta. "Com tudo digitalizado e na internet, o acesso é em casa", destaca Leal.
Há, porém, uma única desvantagem da iniciativa, segundo Leal: "Só é uma pena que as pessoas vão perder a oportunidade de visualizar a beleza da própria estrutura física da biblioteca e dos exemplares. Uma coisa é ter digitalizado. É bonito, é fantástico, a informação está ali. Mas outra coisa é sentir o produto na sua frente, tocar nele. Isto não dá para substituir", suspira.
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