Botão 'Curtir' do Facebook revela raça, idade e sexualidade, diz estudo


A opção 'curtir' no Facebook pode revelar muito mais do que se pretende. Uma pesquisa publicada esta segunda-feira (11) mostra que analisar os padrões destas preferências pode dar estimativas supreendentemente precisas sobre informações pessoais que o usuário não expõe como raça, idade, QI, sexualidade etc.

Cientistas da Universidade de Cambridge, na Grã-Bretanha, e da Microsoft Research, divisão de pesquisas da gigante americana de softwate, desenvolveram um algoritmo que usa as opções 'curtir' para criar perfis de personalidade, revelando potencialmente detalhes íntimos sobre sua vida. Esses dados estão publicamente disponíveis a menos que o usuário faça configurações de privacidade mais rígidas.

Versão gigante do ícone Curtir, popularizado pelo Facebook, é exibido na entrada da nova sede da rede social em Menlo Park, na Califórnia (Foto: Robert Galbraith/Reuters)Versão gigante do ícone Curtir, popularizado pelo Facebook, é exibido na entrada da nova sede da rede social em Menlo Park, na Califórnia (Foto: Robert Galbraith/Reuters)

Estes modelos matemáticos demonstraram uma precisão de 88% ao diferenciar homens de mulheres e de 95% em distinguir afro-americanos de brancos.

Estes algoritmos também conseguiram obter informações como orientação sexual, se o usuário usa drogas ou se seus pais se separaram.

Estes dados podem ser usados em estratégias de propaganda e marketing. Mas, segundo os cientistas, também poderiam deixar os usuários se retraírem devido à quantidade de dados pessoais revelados.

"É muito fácil clicar no botão 'curtir', é sedutor", afirmou David Stillwell, estudioso de psicometria e co-autor da pesquisa.

"Mas você não percebe que, anos depois, todos aqueles 'curtir' são armazenados contra você", acrescentou.

Stillwell explicou que, embora dados do Facebook tenham sido usados no estudo, perfis similares poderiam ser produzidos usando outros dados digitais, como buscas na internet, trocas de e-mails e telefonemas.

"É possível chegar às mesmas conclusões com diferentes formatos destes dados digitais."

O estudo examinou 8 mil usuários do Facebook nos EUA, que voluntariamente disponibilizaram suas opções 'curtir', perfis demográficos e resultados de testes psicométricos.

Enquanto alguns padrões parecem óbvios - democratas curtiram Casa Branca, enquanto republicanos curtiram George W. Bush -, outros foram menos diretos.

Extrovertidos curtiram a atriz e cantora Jennifer Lopez, enquanto os introvertidos demostraram preferência pelo filme "Batman: o Cavaleiro das Trevas". Aqueles que se disseram "liberais e artísticos" curtiram o cantor Leonard Cohen e o escritor Oscar Wilde, enquanto os conservadores preferiram corridas de Nascar e o filme de comédia "A Sogra".

DEDUÇÃO
Em grande parte, as previsões se basearam em dedução, feita a partir de enormes quantidades de dados. Aqueles apontados como homossexuais não foram classificados assim porque clicaram em sites sobre casamento gay, mas por suas preferências musicais e televisivas, por exemplo.

Cristãos e muçulmanos foram corretamente classificados em 82% dos casos. Ema boa precisão nas previsões foi alcançada nos status de relacionamento e uso de substâncias, entre 65% e 73%.

As pessoas com QI mais elevado costumaram curtir o talk show "The Colbert Report" e filmes como "O Poderoso Chefão" e "O Sol é para Todos". Aqueles com QI mais baixo curtiram motos Harley Davidson e Bret Michaels, integrante da banda Poison.

O estudo, publicado no periódico "Proceedings of the National Academy of Sciences", é divulgado em meio a um intenso debate sobre privacidade online e se os usuários sabem quanta informação é reunida sobre eles. Outra pesquisa recente demonstrou que os usuários do Facebook começaram a compartilhar mais dados pessoais depois que a rede social revisou suas políticas e interfaces.

Os cientistas de Cambridge afirmaram que os dados sobre as opções 'curtir' podem ser úteis para avaliações psicológicas e de personalidade, mas também mostra como detalhes pessoais podem ser tornados públicos sem o seu conhecimento.

"Previsões semelhantes poderiam ser feitas a partir de todo tipo de dado digital, com este tipo de 'inferência' secundária, feita com precisão notável - prevendo estatisticamente informação sensível que as pessoas podem não querer que seja revelada", explicou o cientista de Cambridge Michal Kosinski.

Kosinski disse ser "um grande fã e usuário ativo das surpreendentes novas tecnologias, incluindo o Facebook", mas afirmou que o estudo aponta para potenciais ameaças à privacidade.

"Posso imaginar situações em que os mesmos dados e tecnologia são usados para antecipar visões políticas ou orientação sexual, trazendo riscos para a liberdade e até mesmo para a vida das pessoas", afirmou.

Para uma versão mais curta do estudo, os cientistas criaram um aplicativo de Facebook, (veja aqui) denominado You Are What You Like (Você é o que você curte), que faz uma avaliação da personalidade do usuário.





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