"Programa Flávio Calvacanti. 1 fita. Gravado em 07-02-80. Não pode ir ao ar". "Brasil x Alemanha. 2 tempo". "Gonzaguinha especial". As etiquetas com identificações incompletas, que pouco informam e muito instigam, estão em algumas das 536 fitas com programas da TV Tupi encontradas por acaso, entre cadeiras e mesas velhas, no nono andar do prédio dos Diários Associados (proprietários da TV), na Rua do Livramento, no Rio. Parte deste patrimônio está prestes a ser recuperada. A Rede Globo e o Arquivo Nacional do Rio de Janeiro, instituição para a qual o material foi doado, firmaram acordo para recuperar seu conteúdo.
São reportagens, talk-shows, musicais e programas esportivos exibidos nos anos 60 e 70 e em 1980, ano da cassação da concessão da Tupi. "É um verdadeiro tesouro, já que quase tudo o que a televisão brasileira mostrou nos anos 50, 60 e 70 desapareceu", deslumbra-se o historiador Clóvis Molinari, coordenador de Documentos Audiviosuais e Cartográficos do Arquivo Nacional. "Como o material está em mau estado, se conseguirmos recuperar 10% ou 15% dele, já vai ser um milagre."
O responsável pelo achado, há dois anos, foi o gerente técnico da Rádio Tupi, José Cláudio Barbedo, que depois ajudou a viabilizar a doação formal do material ao Arquivo Nacional, feita pelos Diários Associados. "Achei uns rolinhos de filme no chão, fiquei curioso, porque tinha sido técnico de cinema, e vi que era um comercial. Abri outro e era uma reportagem, provavelmente sem som, já que no início da TV não havia videotape: o repórter captava as imagens e depois o locutor do telejornal fazia a narração. Acabei chegando a uma sala com pilhas de fitas da Tupi, a maioria quadruplex, que tinham sido recolhidas no Cassino da Urca (antiga sede da emissora). De cara, vi programas de Flávio Cavalcanti, Aérton Perlingeiro. Vi que aquilo tinha valor histórico e liguei para o Clóvis", conta Barbedo. No Brasil, só existem hoje duas máquinas capazes de ler fitas quadruplex. Uma delas, pertencente à TV Cultura, está sendo usada num amplo projeto da Cinemateca Brasileira.
Restou ao Arquivo Nacional recorrer à TV Globo, dona da outra máquina. Felizmente, o negócio foi fechado. Pelo acordo, a emissora se encarrega de higienizar e digitalizar as fitas - um trabalho que vai custar cerca de R$ 500 mil. Como contrapartida, poderá exibir seu conteúdo por um ano. Depois, ele voltará para o Arquivo Nacional e ficará disponível para consulta pública.
"Dependendo do que tem nas fitas, elas poderão ser aproveitadas em programas como o "Arquivo N" (da Globo News)", diz Maria Alice Fontes, gerente do Centro de Documentação da TV Globo. "É um acervo riquíssimo; a TV Tupi era importantíssima."
Para tentar recuperar os filmes, muitos deles da década de 50, o Arquivo Nacional vai precisar fazer acordo semelhante com um laboratório especializado neste tipo de trabalho.
A fim de sensibilizar o público e possíveis patrocinadores, a instituição mostrou trechos de alguns deles, recuperados especialmente para a ocasião, durante uma edição do seu festival de cinema, o Recine. O que se viu dava a dimensão da importância do material: há o presidente Juscelino Kubitschek sendo aplaudido na saída do casamento de uma parente, Ana Kubitschek; os primeiros nordestinos chegando ao Campo de São Cristóvão; Leonel Brizola discursando na Câmara dos Deputados; e as prostitutas da Vila Mimosa fechando janelas ao se verem flagradas pelas câmeras da Tupi. "Os filmes estão piores que as fitas, por causa da síndrome do vinagre, que é a decomposição da película pela evaporação dos elementos químicos", explica Molinari.
As causas para a quase inexistência de material do começo da TV no Brasil são várias: algumas delas são a natureza do veículo, que no início era ao vivo, os incêndios que vitimaram diferentes emissoras e a falta de noção do valor do conteúdo produzido - o que, após a popularização do videotape, nos anos 60, levava ao reaproveitamento das fitas. O "garimpeiro" que encontrou o material da Tupi comemorou a possibilidade de sua recuperação: "Vai ser um serviço inestimável à memória do país", festeja.
2 Comentários
video que perdi. Foi uma apresentação do Som Brasil em que Gonzaguinha foi homenageado. Seu filho Daniel Gonzaga participou da apresentação cantando "Sangrando". Foi maravilhoso e inesquecível.
ResponderExcluirTenho muita vontade de recuperar toda aquela apresentação.
Obrigada pela atenção. Benildes
video que perdi. Foi uma apresentação do Som Brasil em que Gonzaguinha foi homenageado. Seu filho Daniel Gonzaga participou da apresentação cantando "Sangrando". Foi maravilhoso e inesquecível.
ResponderExcluirTenho muita vontade de recuperar toda aquela apresentação.
Obrigada pela atenção. Benildes