Mais uma boa resenha.
Tron – O Legado
Há muito tempo fala-se em uma sequência de Tron – Uma Odisseia Eletrônica, o clássico oitentista que chega ser profético com o uso de computação gráfica no cinema. A pergunta, antes mesmo de se saber quando a continuação sairia, sempre foi: o quão relevante um novo Tron pode ser? De cara, para que você, leitor, não crie expectativas muito altas, esta resenha alerta: o novo filme não é revolucionário. Embora muito se tem falado da tecnologia usada para rejuvenescer Jeff Bridges, isso não é novidade. Já foi usado em X-Men 3 e de forma abundante nos últimos volumes da cinessérie Resident Evil para mantar Milla Jovovich jovem. O 3D é bom, usado mais para dar noção de espaço do que gratuitamente com coisa atiradas à tela, mas não é nada que Avatar já não tenha mostrado. Então, porque vale a pena assistir Tron – O Legado?
Um dos grandes trunfos do original era abusar da inocência do espectador para causar surpresa com os efeitos especiais. E nisso, Joseph Kosinski, diretor da sequência, junto com o roteiro de Adam Horowitz e Edward Kitsis, consegue preservar. Os fãs da Odisséia Eletrônica oitentista vão se sentir em casa com as citações, referências e brincadeiras com o original. E com a reverência com que o Kosinski trata a obra. Uma aventura descompromissada, com grandes cenas de ação e que transporta quem quer que esteja assistindo a uma viagem em que o destino é alcançado com um grande sorriso no rosto. A trama começa explicando que Kevin Flynn (Bridges), o protagonista do primeiro filme, recriou a Grade à sua maneira, com a ajuda de Tron (Bruce Boxleitner) e CLU (também Bridges), o programa que no começo do original é capturado pelo MCP. Logo depois Flinn desaparece deixa ao filho Sam (Garret Hedlund) o império construído com a empresa Encom. O problema é que o garoto cresce com os ideais libertários do pai e pratica atos de “ciberterrorismo” dentro de sua própria herança. Depois dessa rápida apresentação, Sam vai parar na Grade e descobre que CLU a dominou e, numa espécie de alusão à Revolução dos Bichos de George Orwell, agora a governa com mão de ferro.
Assim como no filme de 1982, a trama é básica e sem nenhum grande atrativo. O espetáculo fica por conta do visual, que atualiza as criações do quadrinhista francês Moebius, deixando tudo ainda mais parecido com a obra do artista. Como Flynn recriou a Grade, foram tomadas algumas liberdades quanto a apresentação dos personagens, agora mais humanizados e “orgânicos”. Com isso Tron – O Legado tem uma forte semelhança com obras Cyberpunk como os quadrinhos de Enki Bilal ou Blade Runner. Os efeitos são realmente impressionantes e não soam forçados a não ser o já mencionado Jeff Bridges jovem, que não tem vida em seu semblante tornando muito claro que aquilo tudo é digital. Mas não chega a atrapalhar a experiência. Bridges, por sinal, também aparece em sua versão atual, com uma interpretação muito competente, transformando Kevin Flynn em uma figura sábia, que mistura nuances de um mestre Jedi com um velho Hippie. Outro destaque do elenco é Martin Sheen, extremamente à vontade com seu excêntrico Castor, um personagem ambíguo com look de David Bowie e exageros à lá Jim Carey (é sério!). Olivia Wilde como Quorra se esforça mas sua personagem detém um dos clichês mais bobinhos de histórias sobre opressão e liberdade: ela quer conhecer o sol. Por fim, a atuação mais apagada é a de Hedlund. Sam Flynn, embora tenha boas sacadas nos diálogos, não tem o menor carisma e desaparece em meio aos talentos de Bridges e Sheen.
Além do visual, Tron – O Legado tem em sua lista de acertos a trilha sonora do Duo de DJs Daft Punk. É a primeira vez que eles compõem para um filme e o resultado é incrível. Imersiva, onipresente e talvez, tão relevante quanto os próprios efeitos especiais. Talvez a única trilha incidental que faça tanta parte da trama dessa forma seja a de Vangelis para o clássico Blade Runner. Todo o clima e ritmo da película estão profundamente ligados à música. Será uma grande injustiça a provável não inclusão do Daft Punk na lista do Oscar de melhor trilha sonora, já que a academia não indica duplas.
A resposta para a pergunta se vale a pena assistir Tron – O Legado é muito simples: sim, vale. Por ser um filme sincero e, mesmo com roteiro fraco, unir tantos acertos. Como já era de se esperar, talvez não seja tão relevante pro cinema como foi seu antecessor. Talvez não se torne cult também. Mas cumpre a premissa de entreter. Porque, como diz um personagem lá pelas tantas, “quando se procura a perfeição, se esquece de olhar pro que está bem a sua frente”. E o que estava bem a frente de diretor e roteiristas com a chance de renovar um clássico era justamente isso. Entreter, sem culpa.
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