Pietà e o Eterno Mito da Ressurreição na Sci-fi


 
Assistindo a última temporada de Pedidos no Espaço me surgiu a ideia de como algumas imagens se repetem constantemente nos filmes.

Em questão a cena em que o Robô carrega Will nos braços. 

Já perdi a conta de quantos filmes assisti em que um robô carrega alguém em seus braços.

A cena em si tem sua origem na mitologia cristã. É uma recriação da obra Pietà do artista renascentista Michelangelo onde Maria segura Jesus morto em seus braços. Pietà significa Piedade invocando compaixão em seus admiradores.

A cena ja foi recriada tantas vezes que seria impossível enumerá-las. Fico apenas com algumas que me veem a mente  envolvendo robôs/máquinas. 

Posso estar enganada, mas para mim, tudo começa com O Dia Em Que a Terra Parou (1951).

O filme tem fortes parelelos intencionais com o Cristianismo. Klaatu é quase um Cristo vindo do espaço, embora sua missão seja um ultimato. Klaatu acredita na humanidade. 

No filme ele morre e é trazido de volta (por tempo indeterminado) pelo robô Gort. 

Gort carregando o corpo de Klaatu para a nave

A associação ao mito Cristão é clara. Gort é protetor e guardião de Klaatu como Maria o é com Jesus. 

Três anos depois, em 1954, outro clássico da Sci-fi, Planeta Proibido (inspirado em A Tempestade de Shakespeare) recria essa imagem. 

Ou seja, dois dos maiores (e mais influentes filmes da história) recriaram a referência de Pietà em pouquíssimo tempo. 

Interessante é que Star Wars utiliza o mesmo imaginário para a queda e redenção de Anakin Skywalker. Não um robô, porém "mais máquina do que homem" como Obi-wan diria a Luke. 

Em Episódio III, A Vingança do Sith, um jovem Anakin, mutilado e queimado é salvo pelo imperador Palpatine. O imperador coloca a sua mão sobre sua fronte (um ato cristão). Suas vestes e seu capuz invocam Pietà novamente. O escolhido Anakin Swywalker jaz quase sem vida no solo involvo em lava incandescente. Uma referência a sua queda. Ao anjo caído. 

Anakin alcança a redenção através do amor de seu filho Luke. Nessa imagem artística, novamente Pietà é invocada. No filme Luke carrega Vader/Anakin para, juntos, deixarem a Estrela da Morte. Luke não sente ódio por seu pai. Seu olhar para o rosto desfigurado de Anakin é de piedade. 

Anakin consegue sua redenção ao salvar seu filho. O amor dentro dele (por Padmé) jamais o abandonara.

Propositadamente a cena em que Anakin supostamente perde a sua humanidade é uma homenagem a Frankenstein. 

Blade Runner também nos traz "máquinas" supostamente sem alma mais humanas que seus criadores. Em uma das cenas mais icônicas da história do cinema, Pietà (piedade) está lá novamente no olhar de Decker (Harrison Ford) para Roy (Rutger Hauer) em sua morte. O replicante segura uma pomba (outro símbolo cristão) em seu ato de compaixão. Roy apresenta um "cravo" (prego) atravessado na mão em mais uma alegoria a crucificação de Cristo. A cena toda remete a Pietà em papéis invertidos. Decker está deitado no chão e Batty próximo a ele, aceita seu destino. Seu tempo se esgota. A pompa em suas mãos voa. 


Em Perdidos, Will representa o Amor. O "monstro" sem alma de Frankenstein está de volta. Um robô alienígena sem alma... Sem alma. Será? 



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