Discurso preconceituoso e racista ganha força na campanha anti-Lula

Hoje eu tô no meu dia de postar sobre política.
Campanha política é fogo. Os caras usam todas as armas que tem. Morais ou imorais.
É triste isso. Explorar a deficiência das pessoas é o cúmulo.
Apelar para o separatimos? Vergonhoso.

Luiz Inácio Lula da Silva tem sido vítima e discursos preconceituosos desde que disputou pela primeira vez um cargo executivo (em 1982). Mas na atual disputa eleitoral, com o crescente protagonismo da internet na campanha, o nível de baixaria e preconceito contra Lula chegou a níveis nunca antes observados numa eleição presidencial.

O portal de relacionamentos Orkut foi alvo, recentemente, de processos judiciais que denunciam a utilização do site para a propagação de idéias racistas, preconceituosas e moralmente ofensivas. Como reação às denúncias, a Google Inc., controladora do Orkut, determinou a retirada de todas as comunidades que contivessem conteúdo inapropriado.

Mas o que a Google não se deu conta ainda é que o "perigo" mora também em ambientes onde não se imagina que o preconceito e o racismo vão prosperar. Comunidades criadas no rastro do processo eleitoral, como as que são dedicadas às candidaturas presidenciais, são diariamente bombardeadas com mensagens de ódio e preconceito. Na comunidade "Nós votamos LULA Presidente 13", a todo momento são denunciadas mensagens de conteúdo racista e preconceituoso, em geral disparadas por pessoas que se auto-declaram anti-Lula e de alguns que se definem como apoiadores da candidatura de Geraldo Alckmin (PSDB).

É preciso ressaltar, porém, que o site oficial do candidato Geraldo Alckmin, em nenhum momento reproduziu, repercutiu ou incentivou qualquer mensagem deste tipo.



"Pobre", "nordestino" "ignorante"...

Um dos comentários mais polêmicos foi de um usuário do Orkut que proclamou que Alckmin "não irá precisar dos nordestinos" se for eleito presidente. Um outro usuário chegou a espalhar uma imagem propondo a divisão do país em duas partes: o Norte e Nordeste ficaria sob a presidência de Lula e o Sul, Sudeste e Centro-Oeste sob o comando de Alckmin. Outro usuário, escreveu "o pobre é burro por natureza, ele vota no Lula para continuar pobre".

Devido à enorme quantidade, seria impossível listar todas as mensagens de cunho preconceituoso que percorrem o Orkut diariamente, mas o tom de todas elas é sempre muito parecido.

As "peças" de propaganda anti-Lula não ficam restritas ao Orkut. Elas se espalham pela Internet com uma velocidade espantosa. É difícil encontrar um usuário de internet que não tenha recebido em sua caixa postal eletrônica pelo menos uma mensagem que qualifica o presidente como "ignorante", "iletrado", "nordestino burro", "operário cachaceiro" e outras tantas de calão ainda mais baixo. E nos últimos tempos, esta adjetivação deplorável passou a ser estendida também aos eleitores do presidente.

Uma das mensagens que mais se propagaram através de e-mails foi uma falsa carta atribuída, também falsamente, a uma pessoa de nome Otacílio na qual se registrava: "Senhor Lula, o senhor foi colocado onde está por pessoas tão ignorantes quanto o senhor".

Mas a difamação é tamanha que a campanha de Lula precisou criar um boletim chamado "Boletim anti-vírus", destinado a desmentir e criticar as mensagens espalhadas pela Internet. Segundo texto deste boletim, parte significativa das mensagens anti-Lula que circulam na Internet é constituída de charges, piadas, fotos e frases depreciativas contra o presidente da República. Há de tudo: de mentiroso a analfabeto, passando por bêbado.

"Claro que se trata de grosseria, pura e simples. Mas, no fundo, estamos diante de um velho e lamentável conhecido: o preconceito de classe. Numa de suas variantes, o trabalhador não teria condições de governar o país, porque não teria a 'alta cultura' exigida para tanto", diz o boletim.


Deficiência vira motivo de piada e peças de campanha

Fora da Internet (mas alimentada por ela) o preconceito ganha forma através de peças de campanha como adesivos e panfletos apócrifos. Na região Sul, apoiadores de Alckmin distribuíram nas últimas semanas adesivos mostrando a figura de uma mão, com quatro dedos, dentro de um círculo cortado pela tarja símbolo de "proibido".

A militância pró-Lula reagiu à ofensa e criou um outro adesivo, que mostra o desenho de uma mão aberta em "L", símbolo das campanhas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, acompanhado dos dizeres "Sou contra o preconceito, sou Lula". A iniciativa foi do deputado Dr. Rosinha (PT-PR), que mantém em seu site modelos do adesivo e comentários sobre a campanha preconceituosa dos adversários de Lula.




O presidente perdeu o dedo mínimo da mão esquerda num acidente de trabalho, quando era torneiro mecânico em fábrica do ABC paulista. Também a Associação Paranaense de Deficientes se mostrou indignada com a imagem, que incentivaria o preconceito.

Segundo o assessor da campanha de Lula no Paraná, Fernando César de Oliveira, o adesivo está disseminado em Curitiba e no interior do Estado. O material também foi visto em Goiânia e São Paulo.

Em Porto Alegre, o mesmo material foi apreendido no último domingo. Ele era distribuído por correligionários da coligação Rio Grande Afirmativo, de Yeda Crusius (PSDB). A juíza eleitoral Ângela Maria Silveira determinou busca e apreensão dos adesivos por considerar que promoviam manifestação preconceituosa em relação ao presidente.

Um leitor do Vermelho que prefere não se identificar, enviou uma mensagem ao portal lamentando a campanha anti-Lula que explora a deficiência do presidente. Ele afirma que, na empresa onde trabalha, recebeu um e-mail contendo uma imagem explorando de forma jocosa os quatro dedos de Lula. "Além de confundir o eleitor mais simples, é extremamente preconceituoso. Recebi este e-mail do meu gerente e fiquei chateado, pois também perdi parte do indicador e médio da mão direita", protesta.

(Por Cláudio Gonzalez, no portal O Vermelho)

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