Viagem ao Centro da Terra - O Filme

Viagem ao Centro da Terra - O Filme é um filme marcante por dois motivos. Primeiro: é o último lançamento do estúdio New Line Cinema, que foi adquirido (e desmembrado) pela Warner Brothers. Segundo, e mais importante: é o primeiro filme com elenco de carne e osso a ser rodado especificamente para exibições digitais com óculos 3D.

Pena que a qualidade do filme não esteja à altura das efemérides.


A nova versão para o cinema da clássica história de Júlio Verne parte de uma premissa exemplar: apresentar o livro a uma nova geração de espectadores, potenciais leitores. Brendan Fraser faz um geólogo que encontra, no meio dos objetos de seu irmão desaparecido, anotações em uma edição do clássico verniano Viagem ao Centro da Terra. Como as anotações casam com sua pesquisa sobre abalos sísmicos, o geólogo desconfia que o irmão descobriu - assim como Júlio Verne - um caminho para o núcleo do planeta.


Não é difícil adivinhar o que vem em seguida. Acompanhado de seu sobrinho (vivido por Josh Hutcherson) e uma guia islandesa (Anita Briem, obrigatório interesse romântico), Brendan Fraser encontra um mundo de maravilhas que vai de pássaros reluzentes a plantas carnívoras gigantes. Nada que o cinema já não tenha visto desde a primeira adaptação do livro, datada de 1959. A diferença agora é mesmo a exibição tridimensional.

E aí o problema são dois: o roteiro escrito a seis mãos é colocado em segundo plano para o diretor estreante Eric Brevig (supervisor de efeitos visuais de filmes como O Dia Depois de Amanhã e A Ilha) privilegiar as situações 3D e essas mesmas situações não são satisfatórias.


Os conflitos que haviam no original, e mesmo nas primeiras adaptações ao cinema, são eliminados. A equipe que descia ao núcleo tinha cientistas rivais, tinha drama. A trinca de Brevig é absolutamente desinteressante. O filme sugere no começo que o tio e o sobrinho não se gostam, mas não leva nem meia hora para virarem grandes companheiros. Se alguns críticos acusam Viagem ao Centro da Terra - O Filme de ser apenas uma atração de parque-de-diversões, não é por menos: esses três personagens parecem escolhidos aleatoriamente numa fila de montanha-russa.

Julguemos então o filme pelo que ele pretende ser. Os efeitos compensam? Depende, se você se contenta com três jorros tridimensionais de saliva na cara, o máximo em "interação" que Brevig oferece... Com exceção dos dois money shots (as cenas que consomem a maior parte do orçamento, a dos peixes e a do dinossauro), o resto do filme é trilha sonora genérica, cenários de isopor e frases de efeito de Brendan Fraser dubladas em português.


Não há tecnologia que resolva o desconhecimento de Brevig de um elemento básico do cinema, que é a profundidade de campo. Como esperar uma grande catarse tridimensional se ele não sabe filmar os atores além de básicos close-ups? E como esperar que o público interaja com o filme se os diálogos - "olhe, um pássaro!", "olhe, túneis!", "olhe, cogumelos fossilizados!" - explicam tudo aquilo que está se vendo na tela como se fosse uma visita guiada?

Se o digital 3D quer se firmar como o futuro, é preciso, antes de mais nada, respeitar o beabá da linguagem cinematográfica, depurada ao longo desses cem anos de "passado" da Sétima Arte.

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