Klaatu barada nikto

Este texto foi retirado de uma coluna muito legal do site do G1.

Desta vez não fui a nenhum congresso científico. Ou melhor, a nenhum congresso científico propriamente dito. Desta vez estive na Comic-Con International, a maior feira de histórias em quadrinhos (HQs) do mundo. E por que resolvi contar isso numa coluna de ciência? Vá lendo com a mente aberta, leitor…


A Comic-con acontece anualmente em San Diego, na Califórnia, e reúne não apenas milhares de fanáticos por quadrinhos, mas uma série de produtos agregados - em geral derivados das HQs - como filmes, seriados de TV, videogames, fotografia, material para colecionadores, fantasias, RPG, computação gráfica, design e assim por diante. Devo confessar que fiquei assustado com o tamanho da coisa. Foram quatro dias inteiros, com dezenas de atividades em paralelo, além de um monumental espaço de expositores, autógrafos, cartunistas amadores etc. Tudo isso e mais as centenas de nerds vestidos como seu personagem favorito. Muito engraçado e descontraído.


Comecei a me interessar pelas HQs desde cedo, principalmente aquelas que envolviam ciência. Era bem divertido aprender sobre física, química e biologia e depois impressionar os amigos com conceitos “avançados” para nossa idade. São diversos os exemplos de cientistas nas HQs, alguns do bem, como o Prof. Pardal ou o Franjinha, e outros do mal, como o Dr. Evil ou Magneto. O fato é que as HQs conseguem transmitir conceitos científicos complexos de uma forma acessível. Talvez o grande mestre nessa arte seja mesmo o Will Eisner (autor do Spirit, famoso personagem dos jornais nos anos 40 e em breve num cinema perto de você). Will Eisner foi o precursor do estilo de novelas gráficas e da arte seqüencial. Usando ângulos criativos, iluminação dramática e um fundo detalhista, ele conseguia incluir sutilmente os conceitos de tempo e conseqüência em suas histórias.

Durante a Segunda Guerra Mundial, o exército americano usou a arte de Will Eisner para ilustrar uma revista mensal sobre a manutenção de equipamentos. Os manuais de equipamentos da época eram complicados e difíceis de ler. Will Eisner mudou tudo. Com quadrinhos, ele conseguia ensinar desde como fazer a manutenção de jipes e rifles até como se comportar socialmente após uma batalha. O sucesso foi imediato. Infelizmente, o preconceito contra os “gibis”, ou revistinhas de criança, afastou as HQs das artes tradicionais e também da ciência. São poucas as publicações que se utilizam dessa forma de comunicação para ensinar ou divulgar ciência, tanto para crianças quanto para adultos. Uma pena. Acho que temos um bom mercado pra isso, mesmo no Brasil.


A outra forma de contribuição das HQs para a ciência é a inspiração. Histórias de ficção científica sempre cativaram o imaginário de milhares de crianças. Algumas crescem e tornam-se cientistas, talvez estimuladas em parte por causa disso. Hoje em dia, percebo que os filmes são os maiores responsáveis por semear esse gosto pela ciência. Filmes inspirados em HQs proliferam nos cinemas, e os diretores estão cada vez mais buscando uma base científica para explicar os mistérios extraterrestres ou superpoderes adquiridos pelos heróis. Não vejo nada de ruim nisso, se a ciência por trás estiver correta.

E por falar em ficção, durante minha visita à Comic-Con, pude assistir a trechos do filme dirigido por Scott Derrickson, The day the earth stood still. O filme, uma regravação do clássico de 1951 e a ser lançado no final do ano, tem Keanu Reeves no papel do extraterrestre Klaatu que chega à Terra para alertar os líderes do planeta sobre as conseqüências das agressões terráqueas ao ambiente mundial. Tema bem atual e relevante, por sinal. No filme original, a famosa frase “Klaatu barada nikto” é usada num momento crucial e acaba por salvar o mundo, gerando acaloradas discussões filosóficas sobre a posição da humanidade em relação a potenciais vidas fora da Terra. Tempos atrás, a equipe da produção da 20th Century Fox contatou nosso laboratório para contribuir com uma cena do filme. Vou fazer mistério e apenas dizer que essa pequena contribuição brasileira tem relação com células-tronco!

Tenho certeza de que o valor instrucional da ficção em HQs pode funcionar por outro lado também. Sei de diversos casos nos quais a ficção inspirou descobertas científicas. Mas isso é outra história…

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