Phantom Of The Paradise [1974]


Olha ele aí!


Acrescente O Fantasma da Ópera, Fausto, Kiss, Alice Cooper, NY Doll's...
Um diretor brilhante... e muita, muita piração?
O que poderia surgir? Um Clássico! :D
PS: Parece que vai haver um remake...shit

Concebido pelo diretor em 1969 a partir da idéia que o mundo do rock estava se tornando uma espécie de Grand-guignol, então nada mais pertinente que aproveitar a emblemática história do Fantasma da Ópera, que já rendera diversos filmes, transportando-a à curiosa cena musical do início da década de 1970, em um musical repleto de sátira e ironia. De Palma estabelece o tom já na primeira sequência, na qual uma banda apresenta um número de rock aparentemente singelo, à moda dos anos 50, mas que introduz o tema do pacto com a morte. E mais, logo os músicos começam a fumar no palco um enorme baseado e a atacar as garotas da audiência.

Em seguida é apresentado o personagem Winslow Leach (William Finley, ator de aparência sinistra e recorrente nos primeiros filmes de De Palma), que penetra no Paraíso, um gigantesco teatro para shows de rock, para mostrar suas composições ao proprietário, o todo-poderoso produtor musical Swan (interpretado pelo compositor Paul Williams, responsável pela trilha do filme). Este, impressionado com a qualidade do material, uma cantata pop sobre o mito de Fausto, promrte produzir o espetáculo mas passa a perna em Winslow, roubando a autoria das canções. Winslow tenta chegar até Swan e numa das tentativas, conhece e se apaixona pela bela aspirante a cantora Phoenix (Jessica Harper). O produtor consegue mandar Winslow para a cadeia, mas ele foge ao saber que suas canções estão sendo gravadas pela banda Juicy Fruits, a mais popular das produzidas por Swan. Tentando mais uma vez chegar a ele, Winslow tem o rosto esmagado em uma máquina de prensar LPs, ficando deformado e perdendo a voz.

Esconde-se no teatro onde rouba um figurino estranho e assume a personalidade do fantasma. Após a primeira investida, com a explosão de uma bomba, Swan consegue convencer Winslow a assinar um pacto, pelo qual o compositor entregaria a Swan sua cantata, que seria produzida tendo Phoenix como estrela. Mais uma vez Swan trai Winslow, que não irá ter sossego até executar sua vingança. Como podemos concluir, não foi apenas O Fantasma da Ópera a principal refarência utilizada por Brian De Palma na construção de seu roteiro. O mito de Fausto se faz presente de uma forma tão ou mais intensa, que não se limita apenas ao tema da obra de Winslow, mas também através dos pactos que Winslow e posteriormente Phoenix, em busca de amor, reconhecimento e sucesso, efetuam com Swan, encarnaçao da figura demoníaca, não somente em um plano mítico, mas também na crítica a produtores inescrupulosos do mundo musical, que fabricam e moldam modismos e candidatos ao sucesso fácil, visando apenas o lucro imediato. Swan, inclusive, havia feito ele mesmo um pacto de juventude eterna, que remete claramente ao romance de Oscar Wilde O Retrato de Dorian Gray. É notadamente interessante a exploração que o diretor faz da frágil figura de Paul Williams, com menos de metro e meio de altura, conseguindo torná-la uma imagem tirânica que ele próprio definiu como um "Napoleão do rock". Sob o ponto de vista cinematográfico, as referências são ainda mais ricas e variadas.

Partindo da ambientação e temática essencialmente góticas da história original do Fantasma, De Palma explora intensamente o cenário do teatro, já apresentando neste filme o refinado apuro no trato da câmera que sempre irá marcar sua carreira. Mas temos também a presença de diversos tipos de gêneros cinematográficos, como as comédias mudas, cuja estrutura acelerada é aproveitada nos momentos que apresentam a prisão, fuga, deformação e transformação de Winslow, avançando uma série de episódios em poucos minutos, num exemplo de objetividade e consisão narrativas. O diretor também utiliza uma série de recursos como apresentação de manchetes de jornais, legendas e uma interessante sequência na qual aproveita o split screen. Com a tela dividida em dois planos, acompanhamos o primeiro atentado de Winslow contra o Paraíso, no qual este coloca a bomba na mala de um carro cenográfico, que é seguido por uma das câmeras enquantro a outra mostra o ensaio de um número musical que parodia os Beach Boys, no qual será utilizado o carro. Quando este entra em cena, se dá a explosão, numa sequência que faz uma homenagem ao filme A Marca da Maldade de Orson Welles, mas que não pode ser devidamente apreciada na cópia em VHS disponível no Brasil, que não apresenta o filme em widescreen, conforme foi concebido. E o etreno guru de De Palma, Hitchcock, está também presente, não somente no clima de suspense (mesmo que satírico), mas também numa citação explícita e bem humorada à cena do chuveiro de Psicose. Não podemos esquecer que O Fantasma do Paraíso é um filme musical, mas os números não se apresentam da forma tradicional, na qual a ação se interrompe para que os personagens cantem.

Em O Fantasma do Paraíso, os números musicais não paralizam, mas fazem avançar a narrativa, constando sempre de ensaios e apresentações, ou aparecem de forma a comentar ou completar a ação, de forma marcadamente satírica e irônica, como já foi dito. De Palma utiliza o Fantasma/Winslow para disparar suas farpas contra o exagerado circo no qual o rock havia se tornado, realizando uma declarada gozação com diferentes estilos e correntes do pop, desde os já citados rocks dos anos 50 e Beach Boys, passando pela androginia e artificialidade do glam rock, em voga na época da realização do filme e retratadas no hilário personagem do cantor Beef, mais uma das armações de Swan, chegando também a outra corrente surgida nos anos 70, a dos artistas que se apresentavam com pesada maquiagem em performaces de inspiração terrorífica, como Alice Cooper ou o grupo Kiss. A trilha de Paul Williams faz uma utilização rica e esperta desta cena musical variada em canções que, mesmo não chegando a ser brilhantes, transmitem com eficiência as idéias e propostas do roteiro escrito por De Palma. Este tem como clímax um final que explora o sensacionalismo e imediatismo da indústria do entretenimento, que não prescinde da idéia de impactar a audiência com um assassinato planejado ao fim de uma apresentação, antecipando uma idéia utilizada pela dupla Paddy Chayefsky-Sidney Lumet em Rede de Intrigas. Por outro lado, De Palma também não poupa o público, que em O Fantasma do Paraíso demonstra ser tão ávido e sedento de emoções baratas, sangue e morte como a platéia de um circo de gladiadores.

Gilberto Silva Jr.

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