EUA comemoram 50 anos da ida do primeiro americano ao espaço

Image634654841345895539Nesta segunda-feira (20), os Estados Unidos comemoram 50 anos da ida do primeiro norte-americano a orbitar a Terra. Em 20 de fevereiro de 1962, John Gleen foi escolhido pela Nasa para ir ao espaço, colocando o país em uma corrida acirrada com a União Soviética, que tinha enviado o cosmonauta Yuri Gagarin para o espaço dez meses antes.

Após cinco décadas Gleen culpa a administração do ex-presidente George Bush como responsável pela falta de capacidade da Nasa em não enviar mais pessoas em missões.

O fim do programa de ônibus espaciais no ano passado deixou os Estados Unidos dependente de seu ex-inimigo da Guerra Fria para enviar astronautas à Estação Espacial Internacional, de propriedade conjunta, que fica a 385 quilômetros acima do planeta.

"Lamento que essa seja a maneira como as coisas se desenvolveram", disse Glenn a uma multidão de funcionários antigos e atuais da Nasa e convidados no Complexo de Visitantes do Centro Espacial Kennedy, na noite de sábado, parte de uma série de comemorações do 50o aniversário de seu voo.

"Gastamos mais de US$ 100 bilhões colocando a estação espacial lá em cima. É muito ruim que a administração anterior tenha tomado a decisão de acabar com os ônibus espaciais, então agora temos que recorrer a outro lugar até mesmo para chegar até a nossa estação", disse Glenn, que foi senador democrata de Ohio entre 1975 a 1999.

Alto custo
Os Estados Unidos acabaram com o programa de ônibus espaciais no ano passado devido aos elevados custos operacionais e para liberar fundos para uma nova geração de naves espaciais que podem voar mais longe da Terra. Mais dinheiro teria sido necessário anos antes para que as novas naves estivessem prontas no momento em que as antigas fossem aposentadas.

Glenn aproveitou suas conexões políticas em um retorno muito aguardado ao espaço em 1998, quando, aos 77 anos, ele voou a bordo do ônibus espacial Discovery como participante de uma pesquisa sobre envelhecimento patrocinado pelo Instituto Nacional de Saúde dos EUA.

Agora aos 90 anos, Glenn, um piloto aposentado, disse que o maior benefício do programa espacial dos EUA é a pesquisa científica e elogiou a decisão de prolongar a vida útil da Estação Espacial Internacional para pelo menos 2020, além do previsto para 2015.

"As pessoas se perguntam 'para que serve a pesquisa?' Acho que cada parte dos progressos realizados pelos seres humanos foi feita porque alguém estava curioso sobre o desconhecido", disse Glenn. "Se há uma coisa que aprendemos através da história de nosso país é que o dinheiro gasto em pesquisa básica traz retornos no futuro, muito além do que foi previsto inicialmente", disse ele.

Mistérios da medicina
Embora a pesquisa não tenha sido a razão pela qual Glenn e seus sete colegas do Mercury foram lançados em órbita, os cientistas tinham muitas perguntas sobre o funcionamento do corpo humano no ambiente sem gravidade do espaço.

"As coisas que estávamos investigando nesses primeiros voos parecem tão primitivas agora, que são quase risíveis", disse Glenn. "Os médicos estavam literalmente preocupados que nossos olhos pudessem mudar de forma e nossa visão mudasse o suficiente para que você não pudesse nem mesmo ver o painel de instrumentos", disse.

Scott Carpenter, que seguiu Glenn em órbita três meses depois, disse que engoliu alimento radioativo para que os médicos pudessem ver se o seu corpo poderia metabolizar os alimentos na ausência de gravidade.

"Não tinha sentido, porque você pode comer de cabeça para baixo e processar os alimentos muito bem. Por que não poderíamos fazê-lo da mesma maneira em gravidade zero? Bem, tivemos que provar. Foi-me dado um alimento radioativo em um tubo de creme dental e me disseram para comer na primeira órbita. Era radioativo para que eles pudessem rastrear o seu movimento através do meu corpo", disse Carpenter.

Após Glenn, houve mais duas missões Mercury e três voos Carpenter, pavimentando o caminho para o programa Gemini e, finalmente, o objetivo real do programa espacial humano nascente: o envio de uma tripulação para a Lua. "Apesar de estarmos atrás da União Soviética, fomos capazes de alcançá-los e fazer exatamente o que (o presidente John F.) Kennedy nos disse para fazer", disse Glenn. "Ao fazê-lo, venceríamos os russos na viagem à Lua."

Velho inimigo, novo amigo
Agora é a Rússia que leva norte-americanos ao espaço a bordo da sua nave espacial Soyuz, um serviço que custa mais de US$ 300 milhões por ano à Nasa. A agência espacial dos EUA também está gastando cerca de US$ 3 bilhões por ano para desenvolver uma cápsula e foguete que podem transportar astronautas para à Lua, asteróides, Marte e outros destinos além da estação espacial. O primeiro voo teste tripulado está previsto para 2021.

Enquanto isso, na esperança de quebrar o monopólio da Rússia no transporte de tripulação à estação, a Nasa já investiu US$ 365,5 milhões desde 2010 em seis empresas que trabalham para desenvolver táxis espaciais comerciais. A agência quer US$ 830 milhões para o ano que começa 1o de outubro para manter o trabalho desenvolvido em duas ou mais empresas.

"Espero que alguns desses esforços para recriar o nosso próprio sistema de transporte avancem e não tenham um monte de problemas, porque até então somos dependentes dos russos para nos levar para o espaço", disse Glenn. "Se alguma coisa acontecer com a Soyuz, se tiver que ser interrompido por qualquer razão especial, não temos nenhuma maneira de entrar no espaço. Acabaria com o nosso programa tripulado até podermos inventar novas maneiras de chegar até lá", disse Glenn.

"Há muitas razões por trás de nossa situação atual", acrescentou Carpenter. "Mas a principal delas é o simples fato de que, quando John e eu trabalhamos para este país, os Estados Unidos eram reconhecidos em todo o mundo como uma nação capaz. Mas agora nos tornamos conhecidos em todo o planeta como uma nação que não é mais capaz, e eu lamento isso."

G1

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