Amido ajudou na amizade entre cão e homem


Paris - Se o cão se tornou o melhor amigo do homem foi porque aprendeu a digerir o amido melhor do que o lobo, seu ancestral carnívoro, sugere um estudo comparativo do genoma dos dois animais publicado nesta quarta-feira.

Ainda não se sabe com precisão por que e como nossos ancestrais priorizaram os cães, e especula-se que tenha sido por motivos de interesse mútuo no que diz respeito à obtenção de alimento e proteção. Mas este animal aparentemente foi o primeiro a ser domesticado.

Um fóssil de uma espécie canina próxima ao cachorro, com uma idade de 33.000 anos, prova isso e também os restos de cães de 11.000 a 12.000 anos que foram identificados em uma sepultura humana.

A genética indica que a domesticação do cachorro começou há cerca de 10.000 anos no sudeste da Ásia ou no Oriente Médio, mas as mudanças genéticas que acompanharam a lenta transformação dos lobos antigos em cachorros domésticos ainda são pouco conhecidas.

Erik Axelsson, biólogo na Universidade sueca de Uppsala, e seus parceiros compararam os genomas de 12 lobos provenientes de diversos pontos do mundo e de 60 cães de 14 espécies distintas para tentar descobrir mais sobre esta evolução.

No total, eles identificaram 36 regiões do genoma que provavelmente sofreram modificações no processo de domesticação e adaptação evolutiva do cachorro. Mais da metade dessas regiões estão ligadas às funções cerebrais, principalmente ao desenvolvimento do sistema nervoso, e poderiam explicar as diferenças de comportamento que separam o lobo do cão domesticado.

Os pesquisadores descobriram ainda três genes que desempenham um papel determinante na digestão do amido, um glicídeo de origem vegetal, revelaram em um estudo publicado na revista britânica Nature.

"Nossos resultados mostram que foram essas adaptações que permitiram aos primeiros ancestrais dos cães modernos a prosperar graças a uma alimentação rica em amido, comparativamente com o regime carnívoro dos lobos, o que constitui uma etapa crucial na domesticação", escreveram.

Uma mudança de nicho ecológico pode ter sido o principal motor deste processo de domesticação. E foi oferecendo a alguns lobos a possibilidade de encontrar comida entre os restos consumidos pelos humanos, cada vez mais frequente com a revolução agrícola, que este novo nicho ecológico foi criado, acreditam os pesquisadores.

"Nossa descoberta pode fazer pensar que o desenvolvimento da agricultura serviu de canalizador para a domesticação do cachorro", acrescentam, ressaltando o "surpreendente paralelo" entre a evolução do Homem e do cão para se adaptar a uma alimentação cada vez mais rica em amido com a aparição da agricultura.





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