SOMINI SENGUPTA
DO "NEW YORK TIMES"
Na literatura e na filosofia, no Ocidente e no Oriente, o conceito de busca se refere a empreitadas humanas ambiciosas e expansivas. Buscamos a Terra Prometida e o cĂ¡lice sagrado; astrĂ´nomos buscam vida no espaço; Buda buscava a verdade.
Mas na internet as buscas mudaram nos Ăºltimos anos. As companhias de web hoje definem as buscas como "personalizadas", ou, em jargĂ£o do Facebook, "sociais".
Essa forma de busca foi criada para permitir que o setor ganhe mais dinheiro, porque permite que ele veicule publicidade direcionada. Essas buscas podem atĂ© ser Ăºteis aos consumidores, mas elas tambĂ©m ameaçam estreitar nossos horizontes.
Editoria de Arte/Folhapress | ||
No caso do Google, a busca personalizada rastreia o que buscamos e escrevemos em nossa comunicaĂ§Ă£o via e-mail e, com isso, procura nos conhecer tĂ£o bem que seus robĂ´s sejam capazes de prever aquilo que desejamos saber.
Uma busca por "vinĂcolas em Sonoma" no Google pode mostrar uma conversa por e-mail relevante, mas esquecida em sua caixa de mensagens. Os algoritmos da empresa podem minerar, alĂ©m dos links disponĂveis na web, aquilo que os amigos do usuĂ¡rio tĂªm a dizer sobre as vinĂcolas de Sonoma no Google+.
Isso nĂ£o significa que a pessoa nĂ£o possa ignorar as recomendações dos amigos, claro, ou que nĂ£o possa perguntar Ă vendedora da loja de vinho que variedade combina com um prato de moluscos. Mas torna mais difĂceis os achados acidentais. A descoberta perde relevĂ¢ncia.
No Twitter, a aba "descobrir" prevĂª o que vocĂª gostaria de ler. A Amazon.com oferece indicações sobre coisas que vocĂª poderia querer comprar "com base em seu histĂ³rico de navegaĂ§Ă£o".
O Facebook ingressou na semana passada no ramo das buscas. EmpregarĂ¡ para isso os dados que fornecemos. Pergunte algo, e os robĂ´s do Facebook vasculharĂ£o os posts de seus amigos atrĂ¡s de uma resposta. Teoricamente, essas respostas influenciarĂ£o a mĂºsica que vocĂª ouve, os livros que lĂª e, quem sabe um dia, os deuses que cultua.
Na era das buscas sociais, passar a tarde na biblioteca vasculhando as estantes de poesia Ă© um imenso luxo. Assim como caminhar por uma cidade, anĂ´nimo, para ir a um restaurante e experimentar comidas novas e exĂ³ticas.
TraduĂ§Ă£o de PAULO MIGLIACCI
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