A Incrível e Triste História de Solomon Linda

Lembram deste post aqui?
Quando falei da canção
The Lion Sleeps Tonight?
Pois bem. Aqueles que acharam o post interessante, em especial, a canção, tem a obrigação de ler o texto abaixo e conhecer a verdaderia história de The Lion Sleeps Tonight e seu autor.
E segure as lágrimas, se puder.

Soloman Linda (primeiro) & The Evening Birds

CANÇÃO DO LEÃO
(ou a Incrível e Triste História de Solomon Linda e seus Desalmados
Exploradores)

POR CAIO NEHRING

A HISTÓRIA

Em 1939, acontece um milagre para o Zulu chamado Solomon
Linda, na frente de um microfone do único estúdio de gravação
da África.
Abre a boca e de sua alma brota uma música mágica, escala
perfeita de quinze notas que entram pelo microfone nos sulcos
de um disco de 78 rotações. A música fez um sucesso danado
no continente africano, decola em Londres, segue para a América
e se imortaliza: permanece 66 anos nas paradas mundiais,
voltando a cada década sob diferentes nomes, formas e disfarces.
O título original no rótulo do disco era Mbube (palavra Zulu para
Leão), interpretado por Solomon Linda e os Evening Birds.

DA ÁFRICA PARA O MUNDO

Artistas tão diversos como Phish, REM, Glen Campbell, Chet
Atkins, Brian Eno, The Nylons e até o maestro brega Bert
Kaempfert, a gravaram.
Navajos cantaram-na em celebrações. Foi hino da equipe inglesa
de futebol na abertura da Copa de 86! Hollywood colocou-a
nas telas, e foi o sucesso mais executado continuamente nas
rádios americanas.
A composição mais famosa a vir da África penetrou tanto no inconsciente
coletivo de tantas gerações, que se pode dizer que o
mundo inteiro a conhece. De um jeito ou de outro.
No meu caso, estava na praia, tomando um mate gelado com
limão, sol a quarenta graus e essa música tocando no rádio
Zenith da esteira ao lado. Eu tinha sete anos.
Sua saga multicultural é um compacto da História da Música
popular, que entra anêmica no séc. XX e se recupera com transfusões
de ragtime, jazz, blues e soul vindo das artérias
Africanas.
Na natureza dessa transação, o fato histórico: A África sempre
deu mais do que recebeu e acabou na miséria.
Com um artista negro não seria diferente.
Essa história é uma homenagem a Solomon Linda, Zulu que
compôs uma canção iluminada, enriqueceu o homem branco
com dinheiro e fama e morreu tão pobre, que nem lápide a
família pode colocar no túmulo.

O INÍCIO

Tudo começa com a amizade entre um aristocrata britânico e
um cantor afro americano famoso.
Sir Henry B. Lock, da cúpula Colonial Inglesa era amigo de Orpheus
McAdoo, do lendário grupo vocal de spirituals, os Virginia
Jubilee Singers.
Indicado governador da Cidade do Cabo, Sir Henry rapidamente
convida Orpheus e os Jubilee Singers para vir da Àfrica, onde
cantam para multidões de nativos boquiabertos em cidades e
vilinhas.
Os Spirituals enfeitiçam os nativos, acostumados aos horríveis
hinos dos missionários cristãos.
McAdoo era seguidor do gospel, mas havia uma subversão rítmica
nas interpretações, prenúncios de funk e soul.
Durante quatro anos, excursionam pelos mais remotos pontos
da Àfrica. Num deles, uma escola no centro de um vale chamado
Msinga, vivia Solomon, um garotinho nascido em 1909.
Fascinado com os Jubilees, incorpora seu canto às músicas Zulu
que cantava com os amigos em festas.
No começo de 1930 Solomon e seus amigos vão a Joanesburgo
tentar a sorte. Moram nas favelas e trabalham como mão de
obra barata nas fábricas.
Perplexo com a cidade, o esperto Solly transforma o cotidiano
em canções a capella (apenas vocal, sem instrumentos) sobre o
trabalho, amor, sobre como a polícia trata mal o Negro.
Nasce o Solomon Linda and the Evening Birds, pioneiros do
gênero Isicathamyia, vocalizações cheias de harmonias e energia,
as vozes graves contrapondo as agudas.
O povo começa a gostar da música do grupo, que em dois
anos é a atração mais quente da cidade. Adotam o terno de
três peças, chapéu e sapato bicolor... Chiquérrimo.
A música dos Zulus é marcada por poderosas batidas rítmicas
dos pés no chão, que em conjunto fazem a terra tremer. Literalmente.
A dança que a música de Solomon inspirava devia ser controlada,
mais suave... No sapatinho.
Quem viu o grupo vocal Ladysmith Black Mambazo, intérpretes
consagrados do gênero lembra dos movimentos insinuantes, da
dança dos pés sincronizados.
Existiam legiões desses grupos entre os migrantes, que no fim
de semana iam as Tea Parties, encontros regados à cerveja,
misto de show e desafio entre corais. O prêmio em geral era
uma vaca ou outro animal.
Se você acha que a capella é só música coral suave e delicada,
leva um choque com a intensidade vocal ao escutar um original
dos Evening Birds. O som é tribal, uma fantástica teia de vozes
usada como instrumento rítmico.
Solomon acabou criando um novo estilo ao dobrar as vozes
graves e injetar mais volume. Nascia uma estrela! Ele era o Elvis
de seu tempo e espaço.
Era o soprano e líder, cantando num falsetto de arrepiar, a marca
registrada da canção do Leão.

A PRIMEIRA GRAVAÇÃO

Em 1938 os Evening Birds são descobertos e gravam pela
primeira vez.
O estúdio é de Eric Gallo, produtor ítalo-americano que
começou vendendo discos de hillbilly para a classe trabalhadora.
Agora produzia e gravava estilos musicais nos dialetos locais,
Africaner, depois Zulu, Xhosa, o que viesse.
Seu sócio, Griffith Motsieloa, era um gentleman e o primeiro produtor
negro da África do Sul. Ele não entendia o interesse de
Gallo na cultura musical das favelas, mas fazer o que? Ele queria
vender discos para os negros. Talvez desse certo.
Tentaram o Afro-hillbilly, mas não pegou. Partiram então para o
Isicathamyia.
Das várias faixas que gravaram, a que nos interessa é Mbube.
Pela música, Solomon e sua banda receberam 10 shillings em
dinheiro e Gallo tornou-se o dono dos direitos autorais.
A música é composta de três acordes básicos, sobre algo sem
nexo como “Leão! Ei! Você é um Leão”, inspirado na caça as
feras que atacavam o gado. Tudo começou no improviso e no
3º. Take, Griffith Motsieloa adicionou piano, banjo e guitarra e lá
estava a música destinada à glória, com algo cativante na melodia
central.
Quase no fim da gravação, Solly respirou profundamente e
soltou o falsetto na melodia de 15 notas que o mundo hoje associa
às palavras “Na selva, na poderosa selva, o Leão dorme
esta noite”.
Griffith Motsieloa sacou no ato que Mbube era especial. Enviou
a matriz à Londres, que prensou discos de 78 rotações,
chegando às lojas no dia que a Polônia foi invadida durante a
segunda guerra mundial.
Haviam poucas rádios negras em 39 e Mbube foi veiculada de
boca a boca pelos ouvintes de estações comunitárias dos subúrbios.
Mbube explode e vende bem durante anos: Foi re-prensada tantas
vezes que o master desintegrou!
E assim, Solomon Linda torna-se o imbatível campeão de desafios,
um herói para os Zulus. Em 1948 já vendera 100.000
cópias! Só em Pretoria, Soweto e Joanesburgo. Mas O Leão
não pertencia mais a Solomon. Fora capturado pelo civilizado
homem branco.

A CAPTURA DO LEÃO

Do outro lado do mundo, em Greenwich Village, o cantor e tocador
de banjo Pete Seeger estava na pior. Desempregado, vivia
num quarto de quinta com mulher e dois filhos.
De família rica de NY, abandonara Harvard e caíra na estrada
com seu banjo. Pesquisara o cancioneiro folk e a música de
protesto social surgida da Depressão nos campos de trabalho
da América. Em NY, juntou-se a banda de Woodie Gurthrie, a
Lenda.
Vestiam-se como os trabalhadores desempregados: camisas
básicas de trabalho e jeans surrados. Escreviam canções de
protesto, sucesso entre a derrotada classe operária. No violão
de Gurthrie, um slogan gravado: Esta máquina mata fascistas.
No banjo de Pete, a versão soft: Esta maquina cerca o ódio e o
força a render-se. Era o protótipo hippie.
Quando Hitler invade a Rússia, escrevem canções antinazistas e
ganham uma certa fama.
Convocado, Seeger vai tocar seu banjo no front. Dispensado em
45, sai pelas universidades e escolas ensinando música folclórica
americana.
Não era o máximo da vida. E o dinheiro era pouco. Pra completar,
contrai pneumonia. Eis que Alan Lomax, um amigo, bate em
sua porta. Lomax e seu pai já eram famosos por coletar pérolas
da musica negra rural.
Descobriram Leadbelly e Muddy Waters em suas andanças.
Agora Lomax estava na Decca, aonde resgatara do lixo um pacote
de discos de uma obscura gravadora africana, enviados na
esperança de que fossem publicados na América.
Quando escutou os discos, pensou...”Meu Deus! Pete tem que
ouvir isso!”. Um deles era Mbube.
Impressionou-se com o ritmo selvagem e alegre, um falsetto incrível
cortando o ar, vozes graves fazendo os baixos...Wow! Ele
podia cantar assim. Caneta e papel na mão, transcreveu tudo.
Não entendia bem as palavras. Cantavam algo como “Uyimbube,
Uyimbube”. Parecia com Wimo-weh. E foi o que escreveu.
Pete Seeger começou a ensaiar Wimo-weh, sua canção favorita
durante 40 anos, com a nova banda folk, The Weavers.
A canção ilumina seu repertório de velharias, na linha de
Greensleves.
Pete estava cansado de viver na dureza.
Queria uma carreira, sucesso, sustentar a família.
Conseguira emprego numa estação de TV, mas fora dispensado
antes de começar, dedado como agitador radical...
As coisas iam de mal a pior até conseguirem uns shows no Vanguard
Village.
Duzentos dólares por semana, comida e bebida de graça, duas
semanas. E então, algo inexplicável acontece: multidões lotam
os shows, a temporada vai para um mês, depois outro e mais
outro...
O sucesso dos Weavers era inexplicável. Canções que estavam
ali há décadas, cantadas por negros e imigrantes... Mas jamais
faziam “aquele” sucesso.
Seis meses depois ainda lotavam o Vanguard. Até a granfinada
de Times Square aparecia.
Uma dessas figuras era Gordon Jenkins, músico de jazz, arranjador
de Benny Goodman e maestro de Sinatra. E o novo diretor
musical da Decca Records. Adorou o show e resolveu bancar a
gravação de um disco.
Gravaram a primeira faixa em 1950, Goodnight Irene, canção de
Leadbelly, amigo e mestre de Seeger. Sucesso imediato!
No lado b, Tzena, Tzena, Tzena, canção Israelita adaptada que
também emplacou. Como também The Roving Kind, releitura do
séc. XIX que chegou a terceiro. Enfim uma carreira.
Saíram do circuito alternativo para a baba dos cassinos e clubes
da época. Vestiam ternos caros, usavam Brylcream nos cabelos,
estavam na TV, rádios, faturando mais de três mil dólares por
semana. Para os antigos camaradas de esquerda não passavam
de hipócritas sugando a cultura negra.
Sua resposta foi Wimoweh, fiel ao original a não ser pelo dedilhado
de Seeger no banjo. A prova de fogo era o vocal, que ele
fazia na perfeição, usando as cordas vocais com tamanho esforço
que estava quase mudo aos 75 anos!
Wimoweh era a “quente” do repertório, o que talvez explique a
espera de um ano para gravá-la, quando já era sucesso em
shows e tv.
Jenkins produziu e incluiu orquestra. Seu arranjo tipo big band
quase apaga o esplendor da canção original. Metais e cordas
afundando a bela canção de Solomon.
Mas Pete entregou-se de tal maneira que Wimoweh pegou de
jeito e entrou nas paradas.
Diferente de tudo o que fizeram, a Bilboard adorou, elegendo-a
canção da semana. Vai estourar! na capa da Cash Box. Primeira
página da Variety: In-crí-vel!
Sucesso, aqui vou eu... Mas os direitos, registrados pelos editores,
Richmond & Brackman não incluíam Solomon.

O ESQUECIMENTO DO WEAVERS

Enlouquecida e paranóica, a América de 52 caçava Comunista
até debaixo da cama. Listas eram publicadas, empregos perdidos,
celebridades delatadas e intimadas.
Em Washington, um antigo camarada de Pete Seeger abria o bico
no Comitê de Atividades Anti-Americanas.
Trabalhara com ele na organização esquerdista a Canção do
Povo, fornecendo cantores para entreter camaradas nas manifestações
políticas. Estava entregando tudo.
Wimoweh estreava na parada de sucessos e ele contava que os
comunistas aproveitavam-se da ingenuidade sexual da juventude
para recrutá-la para o movimento. E mais: conhecia todos
os envolvidos! Eram três dos Weavers, incluindo Pete Seeger!
A imprensa marrom enlouqueceu. Repórteres caem matando na
gravadora, fazendo pressão nas TVs, revistas e nos clubes:
Vocês estão promovendo comunistas! Isso é antiamericano!
Daí pra frente tudo deu errado. Shows e aparições na tv cancelados,
discos banidos, intimações...E Wimoweh vai do sexto lugar
ao esquecimento. Ninguém mais quer saber de um bando
de comunistas!
A Decca cai fora e no fim do ano, Seeger volta ao começo, ensinando
música folclórica para crianças a troco de merrecas e
morando em espeluncas.

PARA A ETERNIDADE, WIMOWEH

Os Weavers estavam mortos, mas Wimoweh sobrevive e atrai
cobras do Jazz como Jimmy Dorsey, cover em 52.
A deusa Yma Sumac provoca frisson com a versão cocktail
lounge. Incluída num álbum do Kingston Trio, ocupa por 178 semanas
consecutivas o segundo lugar das best-sellers! Considerando
que Thriller, o single de Michael Jackson, ficou 50 semanas
entre o primeiro e segundo posto...
Por essa época, o refrão de Wimoweh ecoava nas rádios da
América. Qualquer adolescente conhecia os versos, ah-wim-ôuei,
ah-wim-ô-uei, ah-wim-ô-uei... A música miraculosa de Solly,
adaptada por Seeger e pela qual não recebia um tostão furado.
Na África, ninguém se preocupava em registrar músicas. Você
vendia, comia e pagava as suas dívidas e os direitos eram de
quem comprava. Ponto final.

RUMO A HOLLYWOOD

Em 61 a canção é re-adaptada por Creatore e Peretti, veteranos
do showbiz e por um maestro Phd, George D. Weiss (co-autor
de Can’t help falling in Love with you, gravada por Elvis). Mantém
o contracanto, mas a melodia de Solomon assume o centro
do palco e ganha letra em inglês: In the jungle, the mighty jungle,
The Lion sleeps tonight. The Lion sleeps tonight, remake de
Wimoweh que era um remake de Mbube!
Esta adaptação, gravada pelos Tokens, debaixo de camadas de
estilos pop-rock, como um King Kong escondido dentro de um
bloco de gelo cristalino. Weiss adicionou tambores tribais, cantora
de ópera, guitarra, baixo, e uma sinfônica. A RCA editou-a
no lado B de uma insossa música chamada Tina, que afundou
como prego na água.
Meses depois é resgatada ao acaso por um DJ da WORC,
rolando direto na programação.
Brian Wilson quase bate o carro quando a escuta no rádio.
Arranca um motherfucker dos lábios de Carole King, compositora
de sucessos.
Graças ao DJ, estoura de novo e no fim de 61 é a campeã em
quatro paradas dos EUA! Em 62 era cabeça de qualquer parada
do globo!
Miriam Makeba cantou-a no aniversário de JFK, antes de Marilyn
sussurrar ao microfone ‘Happy Birthday, Mr President’. Tocou
na plataforma de lançamento da Appolo. Foi interpretada
pelos Springfields, Spinners e Tremeloes. Volta em 73 com
Robert John, o blues man branco e em 82, na releitura de Tight
Fit.
Quem mais? Manu Dibango, They might be giants, e até banda
heavy metal alemã. Entrou na trilha sonora de Ace Ventura: Um
detetive diferente. Foi quando a Disney incluiu-a na trilha sonora
de O Rei Leão.
Depois que o filme estourou, usou-a nas montagens da Broadway,
que deu a volta ao mundo.
Foi lançado em dvd, vídeo e no cd-bônus de cantigas tradicionais
que vinha com o vídeo americano, ganhador de um disco
de Ouro.
A cena? Explicando o astral Hakuna Matata a Simba, Timon entoa
um In the jungle, the might jungle...no retorno a floresta.

A REDENÇÃO DO LEÃO
Wimoweh tem 65 anos e continua ativa.
Estimam-se 160 gravações das três versões, 10 filmes e uns 20
comerciais.
O que significa tudo isso em direitos autorais e lucros? O que
aconteceu com a família de Salomon Linda, que morreu na miséria
e foi enterrado numa vala comum sem ver um centavo
desses milhões?
Mbube/ Wimoweh gerou US$ 72 milhões em royalties.
Em 1989, a disputa pelos direitos de The Lion sleeps tonight entre
a Organização Richmond, editores dos Weavers, e Weiss, o
maestro da letra em inglês, entra em tribunal de NY.
O juiz declara a adaptação de Weiss uma composição separada
e diferente da de Linda. Como pode?
Enquanto o Espólio da Família Linda é o depositário dos royalties
a receber por Mbube e Wimwoeh, não tem direitos sobre a
adaptação registrada por Weiss e utilizada pela Disney.
Hoje, 42 anos depois da morte do pai e vivendo na pobreza em
Sowetto, suas filhas começam a receber um adicional.
Uma centenária lei inglesa de direitos autorais diz que todos os
direitos de uma canção revertem para a família do autor 25 anos
após sua morte. A Suprema Corte da África do Sul designou um
promotor para cuidar do espólio e tentar recuperar esses direitos.
A lei também enquadrou a gravadora original, a Gallo, que
colocou advogados para cuidar do caso e certificar-se que
justiça seja feita ao ‘pai’do Leão.
Ninguém tinha obrigação legal nem contrato com Solomon,
ninguém se preocupava com um Zulu. Para todos os efeitos, era
apenas uma canção antiga da África.
E parece que nem Solomon se preocupava com essas coisas.
Mbube tornou-o uma lenda na cultura Zulu e isso era um destino
glorioso sob alguns aspectos.
Todos acenavam para Linda nas ruas, pagavam drinks,
refeições. Era convidado para apresentações especiais, ganhava
o suficiente para comprar ternos e sapatos para trabalhar, casar
de novo e mandar uma vitrola nova para os garotos da missão
de Msinga. Linda desconhecia a ganância.
A maior parte do dinheiro vinha dos desafios, ainda hoje parte
da vida urbana.
Todo fim de semana, Solly e a turminha alugavam um carro e
iam de cidade em cidade, sempre vitoriosos.
Os rivais tentavam de tudo, até poções, para tornar suas vozes
tão potentes como a de Solly. Sem sucesso.
Os Evening Birds subiam no palco e cantavam até o êxtase. A
platéia enlouquecia com tamanha energia em festas que varavam
a madrugada.
Cego pela adulação que recebia na África, nem se perturbou
quando seu Leão dominou as paradas mundiais.
Sua escalada de sucesso, fama e fortuna de Wimoweh nos
EUA, ainda tirou um sorriso dos lábios de um Solly doente desde
59, quando desmaiara no palco, antes de morrer em Outubro
de 62.
“Ele ficou feliz, apenas feliz”, disse Philda, uma de suas filhas –
“Nem sabia se devia receber alguma coisa por Mbube”.
De sua grande família, restam três filhas, unidas após a morte
da mais velha, de Aids em 2002.
Desde que os direitos autorais passaram para a família, um promotor
público está processando a Disney, o conglomerado mais
ativo no uso da canção.
Dos incalculáveis milhões que lhes são devidos, 15 milhões somente
em solo africano, receberam 15 mil dólares até hoje. E
um cheque de mil dólares, enviado por Seeger.
Delphi, Elizabeth e Philda ainda vivem numa favela urbana de
Soweto.
Demoraram 18 anos para colocar uma lápide na cova comum
do pai, que em uma tarde de 1939, foi visitado por anjos em um
estúdio de Joanesburgo.

HAPPY END?

Howie Richmond publicou Stones e Pink Floyd por um tempo. É
bilionário.
Peretti, falecido, sempre ganhou uns 10% do que Richmond faturava.
Portanto...
Creatore aposentou-se e vive de royalties dos muitos sucessos
de seu currículo.
Weiss? É um compositor de sucesso no cinema e musicais,
vivendo entre as dezenas propriedades que possui pelo mundo
e os barcos, uma de sua paixões.

LINKS:
ESCUTE A VERSÃO ORIGINAL DE MBUBE NA
www.amazon.com
CD: MBUBE ROOTS (ZULU CHORAL MUSIC FROM SOUTH AFRICA, 1930'S-1960'S) VARIOUS ARTISTS INTERNATIONAL - AFRICA


Soloman Linda & The Evening Birds
Gravação original de "Mbube" de 1939
Imagens do filme The Lion King


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