Morre Fantomas



Release da Editora Matrix informa que no dia 28 de março morreu Guerino Cicon.

Durante muitos anos ele encarnou o lutador de telecatch Fantomas na TV e nos ginĂ¡sios de esporte pelo paĂ­s afora. Quem tem menos de 40 anos quase nada deve saber a respeito da luta livre - nĂ£o o esporte, mas o entretenimento - no Brasil. Talvez alguns ainda se lembrem de Ted Boy Marino, que depois de encerrado o programa que fazia com outros mestres da marmelada sobre o ringue, foi aproveitado na Globo principalmente na trupe dos Trapalhões liderada por Renato AragĂ£o. Ted Boy, vivo atĂ© hoje, foi, na Ă©poca, dĂ©cada de 70, um dos “artistas” mais conhecidos do paĂ­s - assim como o telecatch, que rivalizava com o futebol na preferĂªncia popular. O release da Matrix divulga o livro “Telecatch - Almanaque da Luta Livre”, de Drago, tambĂ©m autor do “Livro da TraiĂ§Ă£o Feminina”, publicado pela mesma editora. Nele, alĂ©m de Fantomas e Ted Boy, estĂ£o personagens que se perderam no tempo e na memĂ³ria: Aquiles, HĂ©rcules, Tigre Paraguaio, Homem Montanha, Gran Caruso, Cangaceiro, Tony Videla, Marinheiro, Ursus… Os nomes, assim como as fantasias, variavam imensamente, mas havia entre todos esses personagens algo imutĂ¡vel: o bem e o mal. O lutador ou pertencia Ă  turma dos “mocinhos” ou Ă  turma dos “bandidos”, pertencia aos “limpos” ou aos “sujos”. O mundo da luta livre de mentirinha era assim bem simples: preto no branco, sem meios tons, direto, objetivo, facil de entender - e talvez isso, mais do que qualquer outra coisa, explique o sucesso dos programas. Esse universo tinha, porĂ©m, uma exceĂ§Ă£o: o gigante mascarado que entrava no ringue com os braços estendidos, arrastando uma perna, como se fosse um monstro ou um carrasco - e que fazia pudim de todos que ousassem cruzar o seu caminho, nĂ£o importa se da turma do bem ou da turma do mal. Fantomas era diferente. NĂ£o pertencia a nenhum dos dois grupos. Batia indiscriminadamente no adversĂ¡rio, qual uma mĂ¡quina implacĂ¡vel, um profissional frio, sem sentimentos, que estava ali apenas para fazer o seu trabalho da melhor maneira possĂ­vel. O pĂºblico, que idolatrava os bons e odiava os maus na mesma proporĂ§Ă£o. É uma pena que Fantomas e seus adversĂ¡rios tenham desaparecido da TV. AlĂ©m da diversĂ£o garantida, davam, semanalmente, aulas inteiramente grĂ¡tis de moral e Ă©tica para o telespectador, que reconhecia facilmente quem, entre eles, prestava ou nĂ£o, quem usava truques sujos para vencer, e quem vencia apenas por seus mĂ©ritos. Naqueles tempos era moleza torcer para o mocinho, pois todos sabiam quem eram os mocinhos e os bandidos. SĂ³ Fantomas complicava as coisas e deixava o povo indeciso sobre essa histĂ³ria de dividir tudo entre bem e mal. Hoje Ă© diferente. A marmelada saiu dos ringues … Quem a pratica trocou os “macaquinhos” coloridos, as fantasias ingĂªnuas, as mĂ¡scaras toscas dos lutadores de telecatch por sisudos ternos, gravatas - e negras togas. Ao contrĂ¡rio do que ocorre atualmente, o mundo de faz-de-conta de Fantomas e companheiros provocava somente boas e saudĂ¡veis risadas. Blog Cronicas do Mota

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