Análise: Filmes longos são respostas a séries e preço alto da diversão

18/01/2013 - 04h12

CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA

A máxima creditada ao diretor Alfred Hitchcock, para quem "a duração de um filme deveria estar diretamente relacionada à paciência da bexiga", parece ser, depois do 3D, o novo limite sensorial em vias de ser ultrapassado pelo cinema hollywoodiano.

Além do mestre do suspense, também os urologistas desaconselhariam enfrentar, sem ao menos uma escapada, os mais de 160 minutos de "O Hobbit", "A Viagem" e "Django Livre" e a média de 150 minutos recorrente nas próximas grandes estreias.

O fenômeno tem a aparência de nova droga, uma injeção de vigor no cinemão idoso e sob a concorrência de formas narrativas mais dinâmicas e curtas disponíveis na TV e na internet.

O formato das séries, por exemplo, favorece o consumo na metade da duração de um filme.

Além disso, as séries contam com a vantagem suplementar de expandir um tema ou um conflito dramático para as muitas horas de uma ou várias temporadas.

No cinema, o modelo de cerca de 120 minutos até agora estava tentando se adaptar à dinâmica de nossa desatenção pós-internet.

Fazia isso por meio da inclusão de correrias, de explosões ou de ameaças de todo porte, que interrompiam a trama a cada cinco minutos a fim de manter o interesse e a atenção do espectador.

O aumento da duração dos filmes, em certo sentido já presente nas trilogias e nas franquias que proliferaram na década passada, sugere o retorno da narrativa
complexa. Para as tramas intricadas em subtramas e em múltiplos arcos, o tempo acaba sendo um recurso vital.

Mas a maior duração pode ser também uma mera troca, um modo de sugerir que os filmes desses tamanhos justificam o preço que temos de pagar pelo ingresso, pela pipoca, pelo refrigerante e pelo estacionamento.





Enviado via iPad

Postar um comentário

0 Comentários