Boas notícias superam as ruins nas redes sociais

Más notícias vendem. Se há sangue, há destaque. Ausência de notícia é uma boa notícia, e boas notícias não são notícia.

Essas são as regras clássicas para a programação noturna de TV e para os jornais da manhã, baseando-se parcialmente em estatística (audiência e circulação) e parcialmente nos instintos selvagens dos produtores e dos editores. Guerras, terremotos, pragas, alagamentos, incêndios, crianças doentes, cônjuges assassinados --o sofrimento e o caos são proporcionais à cobertura jornalística.

Mas agora que a informação está sendo espalhada e monitorada de diferentes maneiras, pesquisadores estão descobrindo novas regras. Examinando o cérebro das pessoas e rastreando seus e-mails e suas postagens on-line, neurocientistas e psicólogos descobriram que boas novas podem se espalhar mais rapidamente e chegar mais longe que desastres e narrativas convulsivas.

Viktor Koen/The New York Times

"A regra 'se há sangue' funciona para a mídia de massa que simplesmente deseja que você sintonize", diz Jonah Berger, psicólogo social da Universidade da Pensilvânia. "Eles querem seus globos oculares e não ligam para como você está se sentindo. Mas quando você compartilha uma mensagem com seus amigos e parentes, você se preocupa muito mais com como eles reagirão. Você não quer que você seja a Debbie Downer [antiga personagem do programa Saturday Night Live que interrompia conversas com opiniões negativas, para desânimo geral]."

Pesquisadores, ao analisar comunicação pessoal (como e-mails, postagens na web e conversas face a face) descobriram que ela tende a ser mais positiva que negativa, mas isso não necessariamente significa que as pessoas preferem boas novas. Seriam as notícias positivas mais compartilhadas simplesmente porque as pessoas sentem-se melhor ao recebê-las?

Para averiguar essa possibilidade, o doutor Berger observou como as pessoas espalham um determinado conjunto de notícias: os milhares de artigos do site do "New York Times". Ele e Katherine Milkman, colega de universidade, analisaram a lista de artigos mais enviados durante seis meses, comparada a fatores como o destaque dessas reportagens na página inicial do site.

Uma de suas primeiras conclusões a serem divulgadas --que eu ainda considero o mais importante descobrimento sociológico do século passado-- foi que artigos e colunas da seção de ciência eram muito mais propícias ao envio por e-mail do que os demais. Ele descobriu que a ciência despertava um sentimento de deslumbramento, o que levava os leitores do "Times" a compartilhar esta emoção positiva com outros.

TRISTEZA NÃO TEM VEZ

Os leitores também tendiam a compartilhar artigos empolgantes ou engraçados, e também os que inspiravam emoções negativas como indignação ou ansiedade, mas não os que causavam meramente tristeza. Havia a necessidade de os leitores serem estimulados de uma maneira ou de outra, e eles preferiam notícias boas às ruins. Mais intenso o caráter positivo de uma reportagem, maior a chance de ela ser compartilhada, como Berger explica em seu novo livro, "Contagious: Why Things Catch On" ("Contagiante: por que as coisas pegam").

"Histórias de gente chegando em Nova York e se apaixonando pela cidade", escreve o pesquisador, têm chance maior de serem enviadas do que "textos que detalham a morte de um popular funcionário de zoológico." Debbie Downer não é páreo para Polly Positive (algo como "Patrícia Positiva"), pelo menos entre os leitores do "Times".

Em outra tentativa de entender o que é digno de burburinho, neurocientistas examinaram o nível de atividade do cérebro de pessoas enquanto elas ouviam novas ideias. Então, observavam quais delas eram passadas para a frente.

Você poderia imaginar que as pessoas contavam as ideias mais memoráveis --as que geraram maior atividade na região responsável pelo processamento e pelo acesso das memórias. Mas isso não é o que aconteceu durante os experimentos, conduzidos por Emily Falk junto de colegas na Universidade de Michigan e pesquisadores na Universidade da Califórnia, Los Angeles.

As ideias que foram contadas ativavam outras regiões cerebrais: as associadas à cognição social --pensamentos sobre outras pessoas. Se essas regiões eram acionadas quando algo era ouvido, as pessoas ficavam mais propensas a falar entusiasticamente sobre a ideia, e ela continuaria a ser espalhada.

"Poder-se-ia esperar que pessoas se empolgassem mais em espalhar ideias que lhes entusiasmam", diz Falk. "Mas nossa pesquisa sugere que essa não é a história toda. Pensar sobre o que poderia chamar a atenção das outras pessoas pode ser ainda mais importante."

EU, EU E EU

Esta consciência social vem ao caso quando pessoas estão compartilhando informações sobre seu artigo preferido entre todos: eles próprios. Isso é intrinsecamente aprazível e ativa as regiões do cérebro associadas a recompensas como comida, como foi demonstrado em um estudo por Diana Tamir e Jason Mitchell, de Harvard. Na verdade, o estudo mostra, isso é tão prazeroso que pessoas podem abrir mão de dinheiro em nome de falar sobre si mesmas.

Pesquisas anteriores acerca das conversas corriqueiras mostraram que um terço delas é dedicado a si próprio, mas hoje tal tópico se tornou uma obsessão, graças às redes sociais. Pesquisadores da Universidade Rutgers classificam 80% dos usuários do Twitter como personas virtuais cujo assunto principal é "tudo sobre mim".

O resultado é ainda mais "Patrícia Positiva", e não só porque as pessoas são contumazes adeptas do que os psicólogos chamam de "self-presentation" (autoapresentação): apontar sua própria maravilha. Enquanto as pessoas sempre disseram coisas boas sobre si em conversas tradicionais e deixaram os comentários pejorativos para outros, hoje elas se mostram muito mais meticulosas quando divulgam textos por e-mail, Facebook e Twitter.

Na maior parte das conversas orais, não temos tempo de pensar na coisa correta a dizer", diz Berger. "Preenchemos as lacunas conversacionais com o que está na superfície da consciência. Mas, quando você está escrevendo algo, você pode tardar para construir e refinar o que vai dizer, assim isso contém uma melhor apresentação de si mesmo."

Os experimentos de Berger mostraram que as pessoas dizem mais coisas positivas quando estão falando a um público maior, em vez de somente uma pessoa --um resultado que ajuda a explicar as viagens perfeitas que aparecem incessantemente no Facebook.

MUNDO INJUSTO

Mas todas essas coisas boas fazem, de fato, com que a plateia se sinta melhor? Não necessariamente. Um estudo da Universidade do Vale de Utah mostrou que quanto mais tempo uma pessoa passa no Facebook, mais ela pensa que a vida é injusta e que ela é menos feliz que seus "amigos".

Resultados parecidos foram observados em uma pesquisa realizada na Alemanha por um time liderado por Hanna Krasnova, que recentemente relatou "inveja de natureza rampante" e outras "emoções invejosas" entre os usuários mais frequentes do Facebook.

"A presença ubíqua da inveja em redes sociais compromete a satisfação dos usuários em relação à vida", concluem os pesquisadores alemães, descrevendo esse fenômeno como a "espiral de autopromoção e inveja."

Esse vórtice dificilmente soa como uma tendência positiva, mas há provavelmente uma maneira rápida de revertê-la: ligar a TV. Os produtores e os editores de meios de comunicação de massa sempre souberam uma maneira de amenizar a inveja. Depois de eles vasculharem o planeta para canalizar calamidade e caos até a sala de estar, até mesmo o mais miserável habitante de sofá saberá que há alguém, em algum lugar, em situação pior.

Tradução de YURI GONZAGA




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