Gravuras no Egito revelam o que pode ser a primeira representação de um faraó

Seguindo pistas deixadas por um explorador vitoriano, pesquisadores nos EUA e na Bélgica redescobriram um conjunto extraordinário de gravuras rupestres no sul do Egito. As rochas do deserto podem abrigar a mais antiga representação de um faraó.

Detalhes do estilo e do conteúdo dos desenhos sugerem que eles foram feitos durante a "dinastia 0", período nebuloso no qual uma série de reinos teriam disputado a supremacia no país do Nilo.

No fim da pancadaria, sobrou um só rei, unificando as coroas do Alto Egito (o sul da região) e do Baixo Egito (área próxima do Mediterrâneo).

Ao que parece, o monarca representado nas pedras de Nag el-Hamdulab ainda não era esse campeão, já que o artista o retratou só com a coroa do Alto Egito (que lembra um pino de boliche encaixado na cabeça real).

Mas a presença desse e de outros símbolos sugere que ele já tinha centralizado em suas mãos o poder político e religioso do sul do Egito --o que, no fundo, resume a figura do faraó.

Os achados estão descritos na revista "Antiquity", especializada em arqueologia.

A pesquisa é assinada por Stan Hendrickx, da Faculdade de Mídia, Arte e Design de Hasselt, na Bélgica, e por John Coleman Darnell e Maria Carmela Gatto, ambos da Universidade Yale (EUA).

A descoberta "não foi um negócio simples", contou Hendrickx à Folha.

Editoria de arte/Folhapress

Os primeiros relatos sobre as gravuras, feitos pelo britânico Archibald Sayce (1845-1933) no fim do século 19, vieram a público quando não se sabia nada sobre a "dinastia 0" e ficaram esquecidos por mais de cem anos.

Em 2008, um conhecido de Hendrickx mostrou a ele fotos que pareciam bater com os desenhos de Sayce. E, logo depois, Maria Gatto redescobriu o sítio arqueológico.

SÍMBOLOS

Uma série de motivos levou os pesquisadores a estimar que as gravuras teriam sido feitas por volta de 3200 a.C., um século antes do reinado de Narmer, considerado por muitos o primeiro faraó a unificar o Alto e o Baixo Egito.

Primeiro, a parafernália real do monarca de Nag el-Hamdulab é mais simples. Ele é acompanhado por "só" dois porta-estandartes e um porta-leque, enquanto representações posteriores do faraó podiam dobrar esse séquito.

Além disso, a figura do rei é só um pouco maior que a de seus homens. Em desenhos mais tardios, o faraó era um gigante cercado de nanicos.

Finalmente, o rei é acompanhado por um cão --animal que era símbolo de poder na época, mas perdeu a função nos milênios seguintes.

O principal desenho inclui uma inscrição em hieróglifos, a escrita egípcia por excelência, que menciona um "séquito náutico" --e, de fato, o faraó está cercado de barcos ricamente paramentados.

Hendrickx associa essa expressão a um costume dos faraós posteriores, o "Séquito de Hórus", no qual o rei percorria o país a cada dois anos, atuando como juiz e coletando impostos (Hórus era o deus com o qual o faraó se identificava na vida terrena).

Os barcos seriam a procissão triunfante do faraó pelo Nilo, mostrando seu poder aos súditos.






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