Maratona Atari - Adventure

Ô saudade! Isso que nunca tive um Atari. Fui direto para um Dynavision.
Ótimo console. Primeira geração. Gabinete preto.

Roubado carinhosamente do excelente Cemetery Games [agora de cara nova!].
Visitem. Vocês vão gostar. :)



A Maratona Atari de hoje vai ser centrada num único jogo, que foi “pulado” na ordem alfabética no último post: o clássico ADVENTURE, lançado pro Atari 2600 no longínquo ano de 1979.
É, meu velho, mil novecentos e SETENTA E NOVE! Você leu certinho, sim: há trinta e um anos atrás! Adventure é tão velho, mas tão velho que é quase tão velho quanto o próprio Atari, já que o aparelho ainda era jovem  – estava no mercado há apenas dois anos – quando o game foi lançado.



O objetivo do jogo é, controlando um aventureiro, abrir as portas de um castelo amarelo e trazer até ele um cálice perdido, que está trancafiado no castelo negro. Para conseguir a chave que abre o castelo negro e chegar até esse sinistro lugar, o aventureiro precisa encarar masmorras, labirintos, um morcego chato que rouba itens e um trio de dragões, cada um de uma cor. A boa notícia é que, pelo caminho, o herói encontra uma espada que pode ser utilizada para matar os dragões.


Os gráficos do Adventure do Atari eram muito bons para a época e … tá bom, tá bom, é ÓBVIO que eu estou tentando passar a perna em vocês!
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O game tem três níveis, representados no começo do jogo na tela como opção 1, 2 ou 3. O “game 1″ é quase um “demo” do jogo, um modo tão simplificado e fácil que é possível atravessar o game do começo ao fim em três minutos. Nesse modo “super easy”, apenas um dos três dragões aparece, as tenebrosas masmorras ficam fora do jogo, o morcego também não aparece e um dos castelos – o branco – também é omitido. É uma boa forma de ser apresentado ao conceito do jogo sem ter que encarar qualquer dificuldade real.
O modo “2″ apresenta o game na sua “versão completa”, com os três dragões (Yorgle, o amarelo; Grundle, o verde e Rhindle,  o vermelho), o morcego irritante que leva itens de um lugar para outro e a masmorra desgraçada na qual não se enxerga um palmo na frente do nariz. Nesse modo de jogo já é possível localizar a sala secreta onde consta o nome do programador do game (conforme explicarei mais adiante).
O modo “3″ é o jogo completo na sua dificuldade máxima. O conteúdo é o mesmo do modo “2″, mas agora a localização de todos os itens é aleatória, proporcionando uma experiência de jogo diferente a cada partida.





Adventure, de cara, entrega a idade. Seu personagem é representado na tela por um simples quadradinho. A espada é uma pequena seta, os dragões parecem uns marrecos que cheiraram cocaína e todos os ambientes – masmorras, labirintos e castelos são essencialmente corredores cinza com paredes de uma única cor em cada tela.



Graficamente, é tudo tão primitivo quanto possível, mas o mérito de Adventure não é esse (embora os gráficos não estejam abaixo da média dos títulos mais antigos do Atari). A grande sacada do jogo é o pioneirismo na mecânica de jogo. Adventure foi o primeiro game do gênero “action-adventure” a surgir num console, e é considerado o antecessor espiritual do clássico The Legend of Zelda, o mais célebre representante desse tipo de jogo. Adventure também foi, certamente, uma fonte de inspiração para os futuros RPGs de console, já que foi o primeiro jogo a introduzir elementos de RPG – ambientação medieval, castelos, dragões, itens, labirintos – num jogo de videogame.




Fora dos videogames e computadores, os RPGs nasceram em 1974 com o Dungeons & Dragons. O jogo era apresentado na forma de um livro e era jogado com dados, papel e caneta em grupo, ao redor de uma mesa. A primeira tentativa de traduzir essa experiência “de carne e osso” do RPG para um game de computador foi o célebre Colossal Cave Adventure (conhecido também como Colossal Cave ou simplesmente como Adventure – não é coincidência que o game do Atari seja o mesmo), de 1976, que era simplesmente baseado em textos na tela. É isso mesmo, não havia nenhum gráfico! O game dizia algo como “Você está no topo da montanha. Ao sul há uma grande ponte de madeira e a leste segue um caminho que entra por uma floresta“, e então você digitava “leste” ou “sul” para escolher seu caminho e por assim em diante. Colossal Cave não apenas criou o estilo text adventure (muito popular nos anos 80) como pavimentou o caminho para os futuros adventures gráficos (como Maniac Mansion e Monkey Island) e inspirou o surgimento dos RPGs de microcomputadores e videogames.



Embora claramente inspirado em Colossal Cave Adventure, o Adventure do Atari não era uma adaptação propriamente dita da aventura-texto que o antecedeu, mas sim uma tentativa pioneira de combinar aquela narrativa com elementos de ação gráfica. O mérito é todo do progamador Warren Robinett, que inclusive criou também o primeiro “easter egg” (surpresa escondida em um software) de todos os tempos: há uma sala secreta em Adventure na qual é possível esbarrar com a frase “Created by Warren Robinett“. Foi também o primeiro game no qual o personagem controlado pelo jogador podia carregar itens e se beneficiar de diferentes propriedades dos mesmos.



Apesar de ser completamente diferente de qualquer coisa que o Atari já havia mostrado até então, Adventure caiu nas graças do público e vendeu a respeitável quantia de um milhão de cópias, entrando para a história como o 7º game mais vendido do Atari 2600 em todos os tempos.



Minha experiência pessoal com Adventure não foi tão intensa, pois eu o conheci em torno de 1991, quando o game já era muito velho. Meu Atari estava no final de sua vida útil naqueles dias (eu viria a ganhar um microcomputador MSX no ano seguinte), e os games de Atari que eu gostava naquela época eram os de ação, como Star Wars e H.E.R.O. Algo parado e “cerebral” como Adventure não era exatamente o que eu procurava quando tinha dez anos de idade, então não posso dizer que “amei” o game quando o aluguei naquela época, pois não seria verdade. Mas desde logo percebi que estava diante de um game diferente e inovador do sistema, e anos depois vim a perceber a enorme influência que ele exerceu em games posteriores de aventura e RPG.
Se você sempre achou que o Atari era só sobre atirar em alienígenas e fugir de fantasmas em
labirintos, não deixe de conhecer Adventure!

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